Nova era de disrupções exige resiliência e inovação
A crise provocada pela covid-19 é uma dessas situações em que é preciso não apenas superar as dificuldades, mas se fortalecer em decorrência delas. Estamos diante de uma disrupção cujos efeitos atingiram todos os aspectos da sociedade, todos os níveis de governo e todos os setores de atividade econômica.
Segundo o professor do MIT e especialista em empresas familiares, John Davis, a resiliência é ainda mais crucial numa situação de tamanha disrupção, como a provocada pela pandemia da covid-19. Quando há resiliência, a adversidade geralmente aproxima os membros da família, acende o alerta para identificar as mudanças prioritárias e, principalmente, para tirar proveito das oportunidades que surgem em meio às dificuldades, criando valor e mantendo a sustentabilidade dos negócios.
As transformações econômicas, sociais e de saúde continuarão reverberando pelos próximos anos e os custos decorrentes ainda não foram totalmente mensurados. Alguns negócios se beneficiarão dessa situação, mas muitos enfrentarão dificuldades. Nenhuma atividade será poupada.
A capacidade de fazer adaptações sem resistências ou excesso de receio quanto aos riscos é o que, em situações de crise, faz com que a empresa tenha flexibilidade para fazer as correções necessárias e recuperar o equilíbrio garantindo a sustentabilidade dos negócios. Nos negócios familiares não é diferente.
Se não forem resilientes, uma crise ou uma dificuldade mais severa pode provocar divergências entre os membros da família, dificultando o processo de tomada de decisão, que, via de regra, é mais ágil, prejudicando o funcionamento e, assim, destruindo valor e colocando em risco o negócio.
Assim como a resiliência, outro aspecto que diferencia as empresas familiares em contextos de crise é a capacidade de conciliar iniciativas de curto prazo com objetivos de longo prazo. Geralmente, mais dedicadas a planejar para um futuro mais distante, elas conseguem dar o foco necessário para atender necessidades imediatas, principalmente quando há rápidas mudanças e incerteza.Uma equação bastante delicada para evitar que demandas urgentes acabem por suplantar a preservação dos valores do negócio e da família.
A constante necessidade de administrar a tensão entre os interesses da empresa e da família e entre a tradição e a inovação contribui para que tenham mais capacidade de administrar conflitos e se adaptar a novos cenários. Assim, as empresas familiares são, em geral, mais ágeis e flexíveis. De acordo com a Family Business Survey 2019, da Deloitte, para 61% dos entrevistados a capacidade de adaptação e agilidade é a principal razão para a sustentabilidade dos negócios.
O segundo aspecto mais citado na pesquisa como fundamental para a perenidade foi a capacidade de inovar. Implementar algo novo, mudar processos ou aprimorar produtos e serviços é em grande parte das vezes decorrência da criação de algo novo, original e incomum. Assim, criatividade e inovação devem andar juntas. Nesse aspecto, as empresas familiares evidenciam um paradoxo.
Geralmente com certo apego à tradição, não possuem grande entusiasmo com inovações. Porém quando vencem a reticência inicial e abraçam a inovação, conseguem melhores resultados. É o chamado paradoxo entre a inclinação e a habilidade.
Nas duas últimas décadas, a disrupção se tornou mais frequente nas mais diversas áreas. As mudanças tecnológicas são cada vez mais rápidas, novas atividades e serviços surgem, amadurecem e desaparecem numa velocidade cada vez maior, as descobertas científicas aumentaram a expectativa de vida e mudaram as limitações genéticas e assim por diante.
As famílias empresárias também estão em processo de mudança, cada vez mais diversas, geograficamente mais dispersas e mais internacionalizadas. As novas gerações, especialmente os millennials, impuseram novas prioridades, como a preservação e o uso de recursos naturais, maior responsabilidade corporativa e igualdade de direitos e oportunidades na sociedade.
As mudanças, em alguns casos, estão levando as famílias a acelerar o processo de sucessão como forma de fazer com que o negócio consiga absorver melhor as novas demandas. Se, por um lado, num cenário de crise as novas gerações se beneficiam da vantagem de conhecer o legado dos fundadores e dos antecessores e por saber como crises anteriores foram superadas, por outro trazem consigo o desafio de conciliar tradição e inovação.
Assim como as soluções de curto prazo, inovar é necessário e pode ser o diferencial que manterá a sustentabilidade da empresa, sem, porém, se distanciar dos valores e do propósito.
Assim como as famílias que as mantêm devem se ágeis, inovadoras e resilientes, as empresas que forem bem sucedidas na superação dos desafios impostos pela pandemia do coronavírus terão de se preparar para as próximas disrupções que virão. Será preciso ser cada vez mais resiliente e inovador para enfrentar os desafios desta nova era.
Para a sobrevivência da empresa em períodos de crise, a família deve se preocupar em:
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permanecer unida, diligente e decidida.
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tomar decisões conjuntas para os negócios e patrimônio.
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desenvolver talentos suficientes na família para preencher diferentes papéis (proprietários, criadores de riqueza, membros do conselho, e membros da governança, entre outros).
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apoiar o reinvestimento necessário na empresa.
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