Family Office Summit Brazil 2018 reúne mais de 50 family offices em São Paulo
Em sua segunda edição, o Family Office Summit Brazil reuniu membros de famílias empresárias e de family offices para discutir as tendências mais importantes do setor, com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros
A longevidade e o desenvolvimento das empresas familiares e de suas famílias empresárias depende da qualidade da gestão e do relacionamento coeso dos membros das famílias. Mas, cada vez mais, inovação é palavra de ordem para um futuro de longo prazo. E não basta apenas criar pipelines de desenvolvimento de novos produtos e serviços: é preciso tornar-se parte integrante de ecossistemas de inovação. Mais do que investir na aquisição de startups, também é fundamental estar aberto a outras formas de trazer para as empresas a lógica da inovação – com melhorias internas de processos e também como investidores em novas empresas.

Nelson Cury Filho, idealizador do FOSB, abre evento em São Paulo
Essa foi a tônica das apresentações do Family Office Summit Brazil 2018, evento que reuniu cerca de 70 herdeiros e integrantes de family offices para uma manhã de palestras, discussões e trocas de experiências no Hotel Palácio Tangará, em São Paulo, no dia 1 de outubro de 2018.
Para abrir o evento, veio ao Brasil o espanhol Manuel Bermejo, professor PHD da IE Business School, de Madri. Integrante de uma família empreendedora, Bermejo é especialista em gestão de empresas familiares e responsável pelo programa de Gestão Sênior da escola. Em sua apresentação, discutiu as dificuldades da família empresária atualmente, no cenário de mudança vertiginosa de tecnologias que enfrentamos.
Os desafios das empresas
Em linhas gerais, são três tipos de desafios. O primeiro é relativo à singularidade dos próprios negócios familiares e sua relação com as famílias, cada vez mais diversas e muitas vezes espalhadas por várias partes do mundo.
“Além disso, ainda temos uma particularidade como empresas latinas que, apesar da conexão mais forte entre os membros das famílias, têm uma dificuldade de comunicação enorme para debater os problemas do negócio”, explicou.

Manuel Bermejo, da IE Business School, fala sobre liderança positiva
A segunda tem a ver com o contexto externo de globalização e aceleração das tecnologias no mundo. E o terceiro é a formação de um conselho e a estruturação dos mecanismos de controle. Para enfrentar esses desafios, acredita, o primeiro passo é estabelecer – por escrito – os valores e propósitos compartilhados da empresa. Um ponto de convergência geral e formal é prioridade para garantir a coesão familiar. “Com as singularidades bem geridas, não há nada tão potente quanto uma empresa familiar”, afirmou.
Capital de risco
O tema do ecossistema, do ponto de vista do investimento, foi discutido por Newton Campos, professor da FGV especializado em capital de risco. Ele apresentou um panorama dos mecanismos atuais de investimento em novos negócios, conforme o nível de investimento, risco e complexidade.
“Quando falamos em ecossistema, pensamos em algo que se retroalimenta. Então investidores e empreendedores são lados da mesma moeda e podem mudar de lugar conforme a necessidade”, explicou.

Newton Campos mostra os estágios de vida da Start Ups
Carolina Oliveira, da consultoria Grant Thornton, aprofundou os desafios colocados atualmente pelo mundo da tecnologia, com sua volatilidade e incerteza constantes. “Se antes uma nova tecnologia levava até 60 anos para se estabelecer, o Facebook levou apenas dois”, afirmou.
“A única solução para evitar a irrelevância é investir em inovação. Não estamos falando apenas das radicais, que criam novos mercados completamente diferentes, mas também das inovações de processo e de gestão, que melhoram produtos e serviços que já existem.”

Carolina Oliveira, da Grant Thornton
Cases de sucesso
Ciro Aliperti, da Comdesp, apresentou o case do family office de sua família, pensado para gerar riqueza em longo prazo. Os negócios da família se resumem hoje a três empresas: a SFA Investimentos, gestora independente do fundo de ações do family office Comdesp; a SmartBrain, uma empresa de tecnologia que desenvolveu um sistema para a gestão dos ativos de outros family offices; e um terceiro braço voltado ao mercado imobiliário. “Acreditamos em investimentos em ações, mas costumamos dizer que não investimos na Bolsa, mas em empresas.”
A SFA desenvolveu um processo estruturado para avaliar não só os resultados para toda a gestão das empresas em que investe.
“Nosso objetivo é ser sócio de empresas sólidas, que adicionem valor para os acionistas no longo prazo”, disse Ciro Aliperti. Hoje o fundo tem um dos melhores retornos entre os fundos de ações brasileiros no últimos 5 anos, gerando valor acima do CDI, IBOVESPA e de seus concorrentes.
Outro case de family office foi apresentado por Raphael Klein, da família fundadora das Casas Bahia e hoje à frente da Kviv, um fundo de investimento que financia novas empresas de impacto social.
“Para nós não basta a empresa não causar danos ou não fazer mal; é preciso fazer o bem”, explicou.

Raphael Klein fala sobre investimentos de alto impacto social
Entre os investimentos já feitos, estão uma startup que fornece crédito para microempresários com faturamento de até 100 mil reais por ano, a Avante.com. E duas outras iniciativas voltadas à inclusão de pessoas com deficiência: a Livre, que produz kits que transformam cadeiras de rodas em triciclos motorizados, e a Hand Talk, que fornece um recurso para tornar sites acessíveis a pessoas com deficiência auditiva.
Diversificação internacional
Diante da necessidade de diversificar investimentos e eventualmente até experimentar uma vida pessoal no exterior, Luciana Guaspari de Orleans e Bragança, do Santander Private Bank, abordou o planejamento patrimonial e as peculiaridades de países como Estados Unidos, Portugal e Reino Unido para quem pretende investir ou mudar de residência.
“Cada país tem regras diferentes, em termos tributários. Até os regimes de casamento podem ser diferentes. Então é importante buscar informação e consultoria antes de se decidir por esse tipo de diversificação”, explicou. Existem diferenças importantes, por exemplo, em termos de contas bancárias para pessoas físicas ou jurídica.

Luciana Guaspari de Orleans e Bragança fala sobre domicílio fiscal e seus impactos nas famílias empresárias
Investimentos no Vale do Silício foi o tema de Demetri Argyropoulos, CEO da AvantGlobal, empresa de capital de risco que já financiou inclusive alguns dos chamados “unicórnios” – empresas que já chegaram a uma valuation de US$ 1 bilhão, como Palantir e Facebook. Toda a filosofia da empresa se baseia no relacionamento entre especialistas, empreendedores e investidores, unindo as duas pontas da nova e da velha economias.

Demetri Argyropoulos fala sobre investimentos no Vale do Silício
Ainda como estagiário, Argyropoulos trabalhou com o ex-presidente norte-americano Bill Clinton e em várias iniciativas ligadas a grandes empresas durante o período da faculdade. De seus relacionamentos surgiu a empresa, quando ele tinha apenas 21 anos. Hoje sua rede de relacionamentos é sua principal vantagem competitiva, a qual ele disponibiliza a seus clientes, buscando sempre unir os parceiros adequados.
Promover esses encontros e trocas é o objetivo do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE, que desde 2015 realiza encontros entre famílias para desenvolver suas práticas de governança, gestão de investimentos, filantropia, processo sucessório e relacionamento. Segundo Nelson Cury Filho, idealizador do Family Office Summit Brazil 2018, já existem mais de 5 mil family offices na Europa e 6 mil nos Estados Unidos, que são fundamentais para ajudar famílias empresárias a estruturar suas funções de gestão, filantropia, pessoas, oportunidades de investimento e governança.

Nelson Cury Filho agradece os mais de 60 presentes
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