Gustavo Filgueiras: O homem que comanda o Grupo Emiliano
No concorrido e seleto segmento de hotelaria de luxo, o hotel é sinônimo de discreta elegância, exclusividade e sofisticação, atributos que espelham a personalidade do empresário Gustavo Filgueiras, responsável pelo sucesso do negócio.
Hospitalidade é o gesto de cuidar de alguém que pertença a um ambiente diferente do ambiente do anfitrião. Para Gustavo Filgueiras esse conceito é perseguido com perfeccionismo e adicionalmente recebe o carimbo de sofisticação, classe e autenticidade, presentes nos mínimos detalhes. Quem já se hospedou por lá , quer voltar, e quem nunca esteve, sonha com essa oportunidade.
O homem por trás desse ícone de luxo e conforto da hotelaria, em São Paulo e no Rio de Janeiro, é o empresário Gustavo Filgueiras, 43 anos. Ele é o CEO que comanda os negócios da grife Emiliano, que este ano completa 18 anos. O hotel da Rua Oscar Freire, coração dos Jardins, região nobre de São Paulo, foi inaugurado em 2001.
Embora seja arquiteto por formação, ele diz que tem perfil de engenheiro. “Nunca fui muito de criação, tenho mais facilidade com a parte técnica, sou uma pessoa mais de execução”, afirma. Mas sempre teve facilidade na concepção de projetos, em desenvolver conceitos e transmitir briefings precisos para os profissionais de construção.
As ferramentas básicas da hotelaria foram aprendidas durante o estágio – começou a trabalhar na obra do hotel em 2 de julho de 1996 –, acompanhando as reuniões semanais de conceituação com consultores e o pai Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, o fundador da empresa, que morreu em 2017 num acidente aéreo, em Paraty, no qual estava também o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki.
Nessas reuniões, entendeu que hotelaria é uma atividade funcional. Os ambientes devem ser pensados e concebidos de modo a permitir o funcionamento da operação. “Tinha facilidade para absorver esses conceitos e conectar os pontos”.
Ele cursou arquitetura por influência do irmão mais velho, com quem sempre teve uma relação muito próxima. Como desenha bem desde pequeno, o irmão, engenheiro civil, o aconselhou a fazer arquitetura. “Na época, não tinha muita convicção do que queria fazer”, conta. Após a graduação, fez MBA na Fundação Getúlio Vargas.
E, desde então, a cada dois anos, investe em sua formação. Realiza cursos no exterior para se reciclar e suprir alguma necessidade, seja na área de gestão de pessoas ou de administração do negócio. Desde 2008, Gustavo está à frente de toda a operação do Emiliano. Ele é o único dos quatro irmãos que trabalha no hotel.
Consistência
A busca constante por aprendizado está relacionada à sua preocupação com a consistência, característica que considera importante no ambiente de negócios. Antes de tomar uma decisão, costuma refletir bastante, explorar alternativas, discutir e amadurecer bem as ideias, até estar certo de que terá condições de conseguir entregar o que se comprometeu a fazer.
“É importante trabalhar para ser consistente em longo prazo e não tomar decisões de curto prazo que possam comprometer a experiência do cliente. É isso que gera a relação de confiança.”
Segundo conta, um hoteleiro conhecido, ao fazer uma análise, observou que o Emiliano é uma das poucas marcas que não cometeu erros estratégicos nesses 18 anos de existência. “Isso é resultado do nosso conservadorismo, é o que nos protege em longo prazo”.
A preocupação com a consistência do trabalho, em entregar o que promete, é reconhecida pelos hóspedes. O hotel apresenta um dos maiores índices de fidelidade do mercado. Não é difícil entender o motivo do prestígio. Mesmo em datas concorridas, quando a procura por quartos supera a oferta (56 apartamentos em São Paulo e 90 no Rio), é norma da casa reservar quartos para os habitués de última hora. Um cuidado retribuído com fidelidade.
O hotel procura antecipar as necessidades do hóspede, deixando-o à vontade, seja ele habitué ou não. Colocar no frigobar o que ele gosta, identificar o lado da cama em que ele dorme para deixar o travesseiro e o chinelo no lado certo, ajustar a temperatura do climatizador conforme seu gosto, programar o canal de TV na emissora preferida são alguns dos mimos e gentilezas que buscam tornar a estadia no Emiliano uma extensão da casa do hóspede.
O tratamento especial é igual para todos, independentemente de conta bancária ou fama. Essa é uma regra que se aplica ao hotel, ao bar e ao restaurante, esses dois últimos também frequentados por não hóspedes.
“Muitas vezes, a pessoa junta dinheiro para conhecer o hotel, para jantar no restaurante. É um sonho que está realizando e essa experiência tem de ser inesquecível; ela deve se sentir confortável.”
Gestor de pessoas
Garantir que hóspedes e frequentadores tenham sempre uma experiência ímpar é o propósito do Emiliano. Por isso, o empresário aposta na formação e no treinamento dos funcionários – 200 em São Paulo e 180 no Rio. Apesar do jeito reservado, quase tímido, ele é firme e objetivo no trato com os colaboradores e busca construir e manter no ambiente de trabalho um clima de parceria e confiança.
Gustavo gosta de gestão de pessoas e participa intensamente das atividades relacionadas à formação dos colaboradores e ao alinhamento de valores. Todo mês ele faz uma apresentação para os novos funcionários sobre missão, valores da empresa e as expectativas do cliente.
“É uma imersão para preparar quem vem de uma realidade muito diferente, com uma educação simples, a lidar com pessoas muito ricas, famosas, celebridades”, explica Gustavo Filgueiras.
Outra iniciativa incorporada à cultura do hotel é o jantar de fim de ano dos funcionários. Essa é uma tradição iniciada pelo patriarca, que abria sua casa para receber toda a equipe, e que foi mantida. A diferença é o cardápio. Enquanto o prato servido na casa do pai era frango com quiabo, nas festas promovidas na casa de Gustavo o cardápio é polenta com carne assada, carinhosamente batizada de“polentão”.
“Não fazia sentido replicar o prato. O frango com quiabo estava muito associado a meu pai, era uma marca dele”, afirma Gustavo Filgueiras.
Emiliano no Rio
A unidade carioca do Emiliano, que abriu as portas em junho de 2016, em Copacabana, segue o mesmo padrão refinado e oferece o serviço de excelência da matriz paulista. Com uma decoração retrô, inspirada nos anos 50, o hotel recebeu dois prêmios internacionais de arquitetura.
“O Emiliano Rio é meio que um filho, estive muito à frente de tudo lá, enquanto ode São Paulo é um filho do meu pai”, conta Gustavo Filgueiras.
Na obra do hotel do Rio, ele só não se encarregou da garimpagem do mobiliário da década de 50 e das obras de arte, trabalho que teve a participação direta do pai. “Ele se envolveu muito mais do que pensei, percorreu antiquários, foi atrás dos móveis assinados por Lina Bo Bardi e Ricardo Fasanello e de peças de artistas como Burle Max”. (Gustavo Filgueiras)
A paixão do patriarca pela arte brasileira serviu de inspiração para o nome do hotel. É uma homenagem ao pintor modernista Emiliano Augusto Cavalcanti, mais conhecido como Di Cavalcanti, o preferido do fundador, que procurava um nome curto e forte. E, coincidentemente, era também o nome do segundo filho do empresário, o advogado Carlos Emiliano.
O projeto do Emiliano Rio leva a assinatura do arquiteto Artur Casas, mas Gustavo cuidou ativamente de todas as etapas, falando exatamente o que queria, tendo contribuído desde o desenvolvimento do mobiliário embutido até a solução para a fachada.
O acidente
Seis meses depois da inauguração da filial carioca do Emiliano, quando ainda saboreava o sucesso do negócio, veio a tragédia. No dia 19 de janeiro de
2017, ele perdeu o pai, Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, aos 69 anos, na queda do avião que pertencia ao Grupo Emiliano, em Paraty, cidade pela qual o patriarca era apaixonado e onde a família tem negócios imobiliários.
Foi uma mudança repentina em sua vida. O acidente teve repercussão internacional, pois no mesmo avião viajava também uma das figuras mais importantes da Operação Lava Jato, o ministro do STF Teori Zavascki, amigo de Carlos Alberto. Em três dias, Gustavo teve de lidar com um turbilhão de emoções, além de questões de imagem e com o assédio da imprensa.
“Entrei no modo sobrevivência, pois precisava gerenciar a crise. Não tinha fome, nem sono.”
Na primeira noite do acidente, dormiu apenas uma hora e meia e na segunda, três horas. “Parecia que estava passando por um grande teste”. Como a operação e a estrutura do Emiliano são bem azeitadas, fruto da administração eficiente, embora o momento fosse difícil, a atitude, o vínculo e o bom treinamento da equipe se mostraram aliados valorosos.
“Todos estavam muito abalados, mas foram muito profissionais. A identidade e os nossos valores, naquele momento, falaram mais alto”.
Com a morte do pai, por mais que estivesse no comando das operações, Gustavo afirma que ganhou mais maturidade e precisou desenvolver e assumir um papel de protagonismo na relação interpessoal, especialmente com os hóspedes.
“Ele tinha uma relação pessoal com as pessoas, gostava de conversar, de conhecer gente e fazia um corpo a corpo com os hóspedes que eu não precisava fazer”, lembra Gustavo Filgueiras,
Apesar dos estilos diferentes de gestão, eles tinham habilidades complementares e se entendiam bem. “Não que fosse fácil”, ressalta. Enquanto o pai tinha um modelo old school, mais emocional, do tipo que apresentava o problema e a pessoa tinha que encontrar as soluções, Gustavo é mais didático, gosta de estruturar e criar processos, de identificar onde está o erro, a causa do problema.
“Meu pai enfrentou dificuldades, veio de Belo Horizonte para São Paulo sozinho, aos 17 anos, para trabalhar. Era muito crítico e extremamente perceptivo”. afimar Gustavo Filgueiras
Governança às pressas
Os quatro herdeiros, com a morte do patriarca, criaram um conselho de administração para estruturar a relação entre as empresas da área imobiliária e as do setor hoteleiro que faziam parte do Grupo. O processo foi muito rápido – o pai morreu no fim de janeiro e, em novembro, toda a estruturação societária estava organizada.
“Foram criados contratos um pouco mais rígidos e desenhadas todas as relações profissionais já tendo em vista a próxima geração”, diz ele. Gustavo tem um casal de filhos pequenos.” (Gustavo Filgueiras)
Durante essa fase, os irmãos permaneceram unidos no propósito de manter o legado paterno. “Meu pai não gostava de falar de sucessão, pois relacionava o tema à morte. Ele era o dono, queria decidir, mas não queria ter isso de forma estruturada”, conta.
Como justificativa para não implantar uma estrutura de governança, o pai costumava citar a história de um amigo que fez a doação dos bens para os filhos e, mais tarde, sem recursos, acabou indo parar num asilo.
Legado
Casado com a joalheira Andrea Colli, Gustavo tem um casal de filhos, Enrico, 10 anos, e Alexia, de 8. Ele diz que é firme e cobra muito dos filhos,
mas mantém uma relação de respeito e confiança. Ele se preocupa com a formação do caráter e em transmitir valores fortes.
“Quero que estejam aptos a lidar com as diferentes situações, que tenham consistência naquilo que se propuserem a fazer. Esse é o legado que quero deixar para eles”, afirma Gustavo Filgueiras.
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