O QUE FICA PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO? por Marcelo Brennand

Membro de um dos grupos mais profícuos do Brasil, ele seguiu seu próprio caminho ao escolher o cinema como profissão.
Brennand: A escolha foi feita aos 26 anos, quando já trabalhava com seu pai. Filho e neto de engenheiros, Marcelo formou-se em administração, mas ainda não havia encontrado sua real vocação. “Assim como todos os membros da família, trabalhei para terceiros (HSBC, Pricewaterhouse) antes de entrar no grupo (o que é de praxe)”, conta ele.
O tempo em que ficou com o pai foi de grande aprendizagem e durou dois anos. “Absorvi muito dos valores da minha família neste período. Somos aqueles que constroem, e não aqueles que herdam”, afirma.
O grupo, que já construiu 18 fábricas ao longo de 100 anos, é sempre guiado por essa máxima. Outra coisa importante é o amor ao negócio. “Tudo parte de uma inquietação, da busca incessante da própria verdade”, diz.
“Nossa família tem como vocação a busca da estética. Desde a época do meu avô, as construções das fábricas, principalmente as chaminés, não eram retas, essa é uma marca dele. Tinham curvas como as pernas de uma moça”, revela. As fábricas são construídas até hoje como se fossem uma grande obra de arte.
A valorização do capital humano é outra herança importante. Segundo Marcelo, o avô nos anos 50 foi para a Europa comprar equipamentos de alta tecnologia e “importou” seis famílias alemãs para trabalhar nas indústrias. Queria produzir com qualidade.
“Difícil definir por que escolhi o cinema. Talvez tenha a ver com a busca constante de ser verdadeiro. Através dos filmes, consigo me expressar. Minha maior motivação é a realização”, diz Brennand.
O cinema sempre mexeu com Marcelo, que admira o movimento neorrealista italiano, que orbitava entre o documentário e a ficção. Gostava do trabalho com o pai, mas não se sentia realizado. Pediu para estudar em Florença. O curso era completo: passou pelas áreas de produção, roteiro, câmera e até atuação.
Cursou direção em Nova York. Em 2010 abriu a produtora Zéfiro Filmes, que hoje só realiza as próprias produções. O longa Porta a Porta, a Política em Dois Tempos (mostra o período das eleições em Gravatá, agreste de Pernambuco) e o curta Duas Mulheres (baseado no conto de Ronaldo Correia de Brito) são trabalhos já lançados por Marcelo, hoje envolvido em nova produção. Os dois lançamentos fizeram sucesso e participaram de festivais no Brasil e no exterior.
“Tudo aconteceu organicamente. Meu primeiro longa surgiu de uma curiosidade pessoal, foi parar em festivais, foi premiado, vendido para a TV, exibido no cinema e pautou o programa Profissão Repórter. Acabei fazendo palestra em mais de 15 faculdades em São Paulo. Tudo isso fez com que minha família me incentivasse ainda mais, porque viu que havia um resultado palpável. Hoje, como membro do conselho que sou, me sinto mais motivado a trabalhar pelo grupo. Eu me sinto realizado”, relata Brennand.
Fonte: Revista FBFE – Edição 02
Texto: Marília Muylaert
Fotos: Renato Stockler
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