Valor real: Conheça a história da empresa familiar Royal Auping

O Brasil ainda estava às vésperas de abolir a escravidão quando, na Holanda, já se pensava na excelência do mobiliário para dormir. Ali nasceu a empresa familiar Auping — hoje Royal Auping —, a maior referência global em conforto e sono de qualidade.
Era o ano de 1888 e o ferreiro Johannes Albertus Auping recebera a encomenda de produzir camas mais higiênicas para o hospital de Deventer, cidade na região de Salland, na Província de Overijssel. Diante do desafio, Auping usou sua expertise para desenvolver uma malha de fios de aço esticados que serviria de base para os colchões, permitindo maior flexibilidade e ventilação durante o uso. Em 1890, o produto já passou por um upgrade de design e tornou-se ainda mais flexível. Em 1912 foi lançada a pedra fundamental da fábrica Auping, na mesma cidade, onde permaneceu até 2014. Em 2012, o arquivo histórico da empresa foi entregue à municipalidade de Deventer.
Talvez o segredo do sucesso dessa profícua trajetória de 130 anos seja exatamente o investimento constante em inovação, nunca abandonado pelos gestores. “Os processos de produção na indústria Auping de hoje lembram os sistemas robotizados da indústria automobilística, com exceção da divisão de colchões, que têm produção 100% manual”, explica a arquiteta Lili Tuneu Tzirulnik, diretora de marketing da Collectania, revendedora exclusiva da marca no Brasil. “Embora os processos e os produtos tenham sofrido muitos upgrades ao longo dos anos, a base da tecnologia continua sendo a mesma: a malha metálica flexível inventada pelo fundador, Johannes Auping, em 1888”, completa Liliana Tuneu, diretora e fundadora da Collectania.
Uma trajetória única
Durante a Primeira Guerra, em meio ao caos econômico provocado pela crise de 1929, a empresa se manteve saudável diante da encomenda de 30 mil camas feita pelo governo holandês. Essa foi a solução para manter os negócios em níveis aceitáveis durante o período conturbado.
No início dos anos 50, a Auping lançou novas camas, que rompiam com a forma tradicional e tinham uma construção mais leve e econômica. “Isso foi alcançado graças ao investimento em novas tecnologias, muito preparo e um minucioso processo de levantamento das necessidades dos usuários”, publicou em 1957 a empresa. Logo em seguida, a Auping estabeleceu uma parceria com o designer André Cordemeyer. O primeiro resultado dessa união foi o divã Arielle (1953), seguido da cama Cleópatra (1954). Em 1957, Kho Liang Ie e Wim Crouwel deram à Auping visibilidade na Feira de Outono de Utrecht. Além de Cordemeyer, a empresa também trabalhou com Jac Vogels e Friso Kramer, mas especialmente com Frans de la Haye manteve uma feliz colaboração e de longo prazo, que resultou na clássica Auronde (presente no portfólio desde 1973 até o presente).
“A malha flexível acompanha as curvas do corpo e permite que a pressão sobre o colchão seja distribuída de maneira uniforme, sem que haja obstrução da circulação do corpo. Os colchões secos, repletos de canais internos de ventilação, que permitem a circulação do ar, são revestidos de tencel (tecido duas mil vezes mais seco se comparado ao algodão), com a capacidade de absorver e expelir a umidade”, explica Liliana.
A gestão profissional
Já em 1961, a Auping passou a ser administrada por Frans Savenije, o primeiro diretor que não era membro da família empresária, num movimento precursor de delegação administrativa sem que a família perdesse o controle do negócio. De la Haye lembrou do diretor como “um desses empresários para quem o interesse próprio estava completamente subordinado aos interesses da empresa, que colocou altas exigências sobre si e sobre os outros e, assim, ganhou muito respeito”. O designer elogiou a visão de longo prazo do gestor e a preocupação vanguardista com o design aliado à sustentabilidade. Em 1964, o Bureau Total Design — escritório de design conhecido mundialmente pela qualidade — desenhou logotipo, mobiliário, stands, material impresso e a própria casa do proprietário e sucessor dos negócios, Johannes Albert Auping.
Reconhecimento
Em 1988, por ocasião do centenário da empresa, a Auping recebeu o título de Royal Auping, concedido pela família real holandesa.
“Para receber o título real na Holanda é preciso ser uma empresa centenária, com excelência de gestão, de processos, de produtos e de imagem. Aliás, é a imagem da tecnologia holandesa, com produtos que mostram a pujança do país, o nível superior de excelência e de qualidade que oferece. A cada 25 anos, o governo faz uma auditoria na empresa para saber se continua a sustentar o título. Há três anos realizaram esse teste na Auping e saíram muito felizes com a renovação”, conta Liliana.
Uma das últimas empresas familiares da cidade de Deventer, a Auping ainda é propriedade dos descendentes do fundador Johannes, que têm o controle das ações. Porém, os familiares não fazem parte do dia a dia da empresa.
Fonte: Revista FBFE – Edição 02
Texto: Gustavo Curcio
Fotos: Renato Stockler
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