Conselho de Família – Cofa foi o tema que Nelson Cury Filho, fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE, discorreu no FBFE Mulher 2021. Como consultor, ele tem atuação singular na capacitação dos membros familiares e defende a criação do Cofa como uma das ferramentas indispensáveis para a governança familiar.
Conselho de Família – Cofa: o que é, qual a sua importância e por quê montá-lo?
Conselho de Família tem como um de seus objetivos separar as relações familiares das relações profissionais. Garantir que a família não impacte negativamente nos negócios é uma de suas funções primordiais e aponta a direção que o grupo deseja imprimir nos negócios. O Conselho, ou consilium do latim, remete à sabedoria e discernimento
Ao contrário do que acontece nas empresas não-familiares, onde as relações entre os acionistas e colaboradores são estritamente profissionais, nos negócios familiares, os sentimentos e as emoções entre pais, filhos, tios e primos podem interferir no ambiente de trabalho e consequentemente, no desempenho das instituições. Brigas familiares, disputa entre irmãos, falta de preparo, estilos diferentes de gestão entre pais e filhos, ameaça do patrimônio por divórcio, são algumas das situações em que se faz necessária a mediação de conflitos.
“Uma família alinhada em seus valores e propósitos supera qualquer desafio.
Essa é a condição ideal para a votação de questões do conselho administrativo e em todas as áreas que necessitam de opinião e voto. A pior coisa que pode acontecer para uma família empresária é a estagnação por opiniões antagônicas ou desalinhamento, onde cada um rema para um lado. Não precisa se amar, mas precisam estar todos na mesma página”, destaca Nelson Cury Filho.
O Conselho de Família é um espaço onde todos os membros da família, inclusive novos ou futuros acionistas, têm a oportunidade para falar abertamente sobre suas emoções, aspirações e tomarem decisões com mais segurança. É o fórum adequado para a discussão de assuntos familiares que possam interferir na gestão da empresa. Os assuntos são levados ao Conselho de forma profissional, organizada e transparente. Ele é estratégico para a solução de problemas, conciliação de interesses dos membros, mediação e tomada de decisões.
“O ideal é ter sempre um mediador externo para organizar os encontros e administrar a voz de cada um, garantindo que se expressem em condição de igualdade. É necessário que todos tenham espaço para colocar a sua opinião no momento propício e de forma transparente”, acrescenta Nelson Cury Filho.
No Conselho não há imposições unilaterais e sim, diálogo com opiniões divergentes que se complementam, contribuindo para o processo decisório, alinhamento e direcionamento dos negócios. Isto não significa que todos da instituição tenham que se dar bem, mas sim, respeitar os diferentes pontos de vista e com isso progredir e garantir a longevidade da empresa.
As mulheres devem se apropriar de sua voz e participar ativamente dos conselhos. Quando houver conflito ou discordância, é importante colocar em pauta os valores que unem a família. Para Nelson Cury Filho, a diversidade na empresa familiar é estratégica. “Não é saudável para os negócios que todos pensem da mesma maneira. A complementariedade de diferentes formações do Conselho é que vão trazer bons insights”.
As atribuições do Conselho de Família são definir limites entre interesses familiares e empresariais, alinhar metas, assegurar a perenidade da empresa e patrimônio, sem interferências familiares, planejar o processo sucessório e programas de formação e capacitação de herdeiros. O Conselho ainda promove a blindagem patrimonial da empresa, preserva os valores familiares, e define os critérios para a indicação dos membros que irão compor o Conselho de Administração, além de representar a família perante os demais conselhos administrativos da companhia. “Família empresária tem visão de longo prazo. Tem como objetivo a perenidade dos negócios” completa Cury Filho.
1. Por que criar um conselho de família?
Na opinião de Nelson Cury Filho, expert no assunto, o Conselho é a maior e mais eficaz ferramenta que existe dentro da governança familiar. Dados apontam que no Brasil, a cada 100 empresas familiares, 30 alcançam a segunda geração e apenas cinco chegam até a terceira. 85% das empresas familiares morrem por falta de governança e por não estruturarem um Conselho de Família. Os números apontam para a necessidade urgente da atuação do Conselho Familiar para alinhar objetivos, desejos e necessidades das empresas e dos membros familiares e com isso, garantir a sobrevivência do negócio.
2. Quem deve criar o Conselho de Família?
Médias e grandes empresas cujas administrações envolvam familiares nos mais variados graus de parentesco.
O Conselho é o melhor lugar para solucionar conflitos, como mágoas e frustrações de um filho com relação ao pai autoritário ou apegado a modelos de gestão ultrapassados. Ou filhos, com projetos de vida diferentes do planejado pelo patriarca ou matriarca; irmãos com personalidades muito fortes e dificuldades de relacionamento; resistência do patriarca/matriarca em se aposentar e até separação conflituosa de cônjuges.
Todos esses exemplos podem dividir a família e colocar em risco o esforço empenhado na construção e sustentação do negócio e devem ser resolvidos em reuniões administradas pelo Cofa. Sem regras, é difícil atrair investidores e fazer a empresa crescer. O Conselho de Família tem caráter ético e moral, mas tem também penalidades. Todas as decisões tomadas são baseadas em consenso e não por voto, para que ninguém se sinta prejudicado.
3. Mas e se não houver consenso?
Conversar quantas vezes for necessário, nem que para isso sejam realizadas várias reuniões até chegar a esse consenso.
4. Como funciona o Conselho de Família?
Por meio de reuniões periódicas, agendadas previamente, com mediadores externos independentes e profissionais. Nessas reuniões não há espaço para o ego. Há de se focar nos valores que conectam a família. É assim que a empresa se tornará sustentável, focar no objetivo.
Qual meta a companhia quer atingir? Qual o legado pretende deixar para as futuras gerações? O bom senso deve predominar. Todo mundo deve sair do COFA alinhado.
Uma dica importante é fazer as reuniões de Conselho de Família fora do local da empresa, em um ambiente neutro e mais informal, que propicie conversas sobre a história da família, seus legados, valores e tradições. É necessário criar um clima favorável, positivo para a discussão de temas que afligem a família e que podem vir a impactar os negócios. Para que assim os membros saiam de suas armaduras como homens e mulheres de negócio e encarem um novo papel como acionista e sócio.
Para se passar os valores familiares para as próximas gerações, é preciso passar o orgulho de pertencer a uma família. As pessoas devem se sentir engajadas, sempre. É importante saber sobre as nossas origens, nossa raízes. Fatores importantes que conectam a família.
Todos os membros familiares, desde cedo, devem se sentir incluídos nos processos decisórios de forma que a família esteja alinhada com as metas. É o lugar perfeito para se ampliar vozes e trazer equidade dentro das famílias empresárias. Disso tudo, deve-se construir um código de ética e trazer um facilitador/mediador externo para a comunicação entre os membros familiares. Ou até mesmo um membro do grupo, o qual seja capacitado para esse papel e que a família confie.
“Dentro do Conselho de Família, uma dica importante: é sempre bom trabalhar com um número ímpar de membros familiares, para que haja desempate nas votações, caso, em última instância, a família não chegue a um consenso. O famoso voto de “minerva” sempre ajuda. O ideal e que o conselho tenha entre 5 e 9 participantes”, finaliza Nelson Cury Filho.
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