A inevitável influência do dinheiro na empresa familiar
Por Randolph Waesche, 2017.
O dinheiro é um meio de troca poderoso, persuasivo e influente – e assim tem sido desde o início da história. Merriam Webster o define como uma medida de valor ou um meio de pagamento, mas sua influência é muito mais ampla. Pode-se argumentar que na gênese da maioria dos conflitos familiares está o dinheiro e sua influência no sistema da empresa familiar.
O dinheiro é considerado como o elemento mais significativo para o avanço e o desenvolvimento da civilização. Sem dinheiro os holandeses nunca poderiam ter comprado a ilha de Manhattan dos nativos americanos por US$ 24 em 1.626. Hoje, sem dinheiro, o sistema de empresa familiar não seria a peça fundamental da maioria das economias desenvolvidas no mundo. O dinheiro é o componente comum que liga a empresa familiar por meio das gerações. E a compreensão da família sobre o propósito do dinheiro pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso na maioria das empresas.
O dinheiro, na sua definição e uso, é confuso e não muito bem compreendido. Peça a dez pessoas para definirem o dinheiro e muito provavelmente você terá dez definições diferentes. Isso torna difícil apreciar e entender como é o alicerce que sustenta o sistema empresarial familiar. Em muitas empresas familiares, quem ganha o dinheiro, e/ou quem o controla, determina o destino da família e, portanto, do negócio. Compreender o dinheiro é entender como a família é controlada e por quem. Richard Wagner, líder teórico e pesquisador sobre o tema dinheiro, faz a seguinte afirmação:
“O dinheiro constitui uma força secular penetrante e poderosa. O dinheiro está incorporado a praticamente todas as questões públicas e privadas significativas. E isto porque mostra como nossos corações são iguais, revela sistemas de valores e prioridades. E também porque geralmente podemos encontrá-lo espreitando onde quer que encontremos alienação ou reciprocidade entre seres humanos ou grupos de seres humanos ou seres humanos e o mundo que nos rodeia.”
Dito de outra forma, o dinheiro é uma força poderosa, persuasiva e influente.
Dinheiro como fonte de conflito
No seio da empresa familiar, quer o conflito resulte da redução do lucro distribuído, do desejo dos empregados por aumento salarial ou por um financiamento para expansão da empresa, a percepção e/ou a necessidade do dinheiro do indivíduo influenciam nos resultados. Um acionista pode se opor a assinar um empréstimo bancário, mesmo que a expansão seja de interesse da empresa, pelo receio de perder dinheiro ou por necessidade de segurança financeira. As lutas e desentendimentos sobre as reduções de dividendos, especialmente com acionistas que não entendem as operações internas do negócio, são frequentemente causadas pela possibilidade de alterar o estilo de vida e o senso de autoestima do investidor. A decisão para os ganhos de curto prazo tem geralmente origem no desejo de financiar as necessidades pessoais que não têm nada a ver com a viabilidade de longo prazo do negócio. Em todos os três exemplos, o fracasso dos membros da família em entender qual é a finalidade do dinheiro e como o dinheiro influencia na empresa familiar, positiva ou negativamente, vai gerar conflitos.
Para a família, ter o dinheiro em mãos é mais importante e causa mais preocupação do que as taxas internas de retorno, os modelos de alocação de ativos ou as taxas de cobertura do serviço da dívida incorporadas aos empréstimos bancários. Em uma empresa familiar, a influência do dinheiro está associada a conceitos que remontam aos primórdios. A fábula de Esopo “A galinha dos ovos de ouro” e o rei Midas na mitologia grega transmitem alegorias morais sobre o relacionamento do indivíduo com o dinheiro – principalmente a ganância.
A Ganância
A ganância e o poder na empresa familiar são tão vivos e evidentes hoje como há centenas de anos. Na fábula de Esopo, um fazendeiro e sua esposa tinham uma galinha que botava um ovo de ouro todas as manhãs. Supondo que a galinha devesse ter um armazém de ovos dentro dela, eles mataram a galinha para obter todo o seu ouro. Na expectativa de uma vantagem imediata, privaram-se do ganho que teriam recebido diariamente devido à ganância.
O mesmo resultado infeliz ocorre hoje quando uma empresa familiar é vendida. Os bancos de investimentos prometem satisfação imediata, riqueza e boa vida aos acionistas, mas o resultado é diferente. De acordo com o Fundo Nacional para Educação Financeira, 70% das pessoas que recebem grandes quantidades de dinheiro quebram rapidamente dentro de alguns anos. Com grande frequência, a família que vende um negócio sustentável aprende dolorosamente que a riqueza súbita não é tão segura, agradável ou previsível quanto o fluxo contínuo de rendimentos gerados pelo negócio.
A moral da história do Rei Midas é que a ganância deve ser evitada e deve-se apreciar o que se tem, não importa quão grande ou pequeno seja. No entanto, na cultura popular mundial, a ideia de possuir tudo o que se deseja é conhecida como “american dream”, o sonho americano. O que a cultura popular não revela é o real entendimento do sonho americano, ou como Mick Jagger cantou: “Você nem sempre consegue o que quer”.
Observamos este desejo pelo aumento de bens materiais e a ganância em famílias lutando por pequenas diferenças percentuais na participação dos lucros e das propriedades. O desejo de mais rendimento pode destruir os negócios e a unidade familiar. Muitos acionistas compreendem as recompensas e os benefícios que o dinheiro oferece, mas não a disciplina, o tempo e o conhecimento necessários para tomar decisões que sustentem a lucratividade. A ganância é a incubadora do conflito familiar em torno do dinheiro.
O modelo dos três círculos de Tagiuri e Davis (John) do sistema de negócios familiares provou ser uma interpretação eficaz para a estrutura da empresa familiar. O que ele não aborda é a inevitável influência do dinheiro na fusão dos três sistemas: propriedade, família e negócios. O dinheiro é o fator comum na intersecção de cada sobreposição e sua influência é profunda.
Dinheiro e empresa familiar
A maneira de compreender o dinheiro é que faz a diferença entre as famílias que funcionam de forma cooperativa e aquelas disfuncionais. Uma forte e vigorosa relação e compreensão da finalidade e do uso do dinheiro geram empresas familiares prósperas. Nas empresas familiares, o dinheiro não é uma mercadoria, mas um elemento definidor que influencia e define a empresa. É o elo comum entre família, negócios e acionistas.
A influência do dinheiro na empresa familiar não recebeu a atenção merecida nas pesquisas acadêmicas. Sem ela, a empresa familiar não seria a base da maioria das economias do mundo desenvolvido, gerando de 70% a 90% do PIB global anualmente e representando dois terços de todas as empresas em todo o mundo. O dinheiro é o fio comum que liga o negócio da família através das gerações, e a compreensão de seu propósito e influência dentro do sistema da empresa familiar pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Precisamos entender o que Emerson quis dizer quando disse: “O dinheiro, que representa a prosa da vida, e que dificilmente é citado nas rodas de conversa sem desculpas, é, em seus efeitos e leis, tão bonito quanto as rosas”.
*Randolph Waesche é membro do Family Firm Institute-FFI. É presidente e CEO da Resource Management, LLC, da Louisiana Registered Investment Advisory (empresa de investimentos oficiais), selecionada pelo Financial Times como uma das principais empresas RIA nos EUA durante os últimos três anos. Tem mais de 34 anos de experiência como consultor financeiro e consultor de negócios familiares. Ele e sua empresa são há muito tempo patrocinadores da Family Business Review e do prêmio FBR Best Reviewer.
*Texto traduzido por: FBFE
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