A empresa familiar sempre foi considerada um pilar fundamental da economia global, mas atualmente se vê diante de novos dilemas que ameaçam sua perpetuação.
A transferência de patrimônio e o comando dos negócios entre gerações tornam-se cada vez mais desafiadores, influenciados por fatores como as mudanças demográficas que ocorrem em diversos países. Nesse contexto, a nova face da governança familiar emerge como uma solução necessária para garantir a continuidade e o sucesso dessas organizações.
Um aspecto central desse dilema é a transição dos recursos financeiros dos “baby boomers,” que devem somar impressionantes US$ 150 trilhões ao serem transferidos para a geração dos millennials. Essa mudança não apenas promete impactar drasticamente a economia mundial, mas também introduz questões fundamentais sobre como essas quantias serão geridas e investidas.
As novas tecnologias e as transformações na indústria energética serão cruciais nesse cenário, direcionando o mundo rumo a um futuro mais sustentável e limpo.
Historicamente, as altas taxas de natalidade e os casamentos arranjados ajudaram as famílias empresariais a superar os obstáculos sucessórios. Famílias como a dinastia Rothschild exemplificam essa prática, que buscava concentrar poder e riqueza por meio de uniões estratégicas dentro da própria família. No entanto, as realidades contemporâneas mudaram de maneira significativa.
O declínio na natalidade resultou na diminuição de herdeiros disponíveis para assumir os negócios familiares, enquanto a livre escolha deixou de lado os casamentos arranjados. Além disso, a longevidade aumentada dos patriarcas e matriarcas frequentemente faz com que esses líderes permaneçam no controle por mais tempo, criando uma resistência à sucessão.
Outro fator preocupante é a falta de interesse de muitos herdeiros em assumir os negócios da família, especialmente se estes estiverem localizados fora dos grandes centros urbanos. Com a possibilidade de estudar e trabalhar em cidades maiores, muitos jovens optam por explorar novas oportunidades em vez de continuar nos empreendimentos familiares.
Na Alemanha, esse fenômeno é conhecido como “efeito Buddenbrook,” uma referência ao romance de Thomas Mann que narra o declínio de uma empresa familiar ao longo de várias gerações devido a decisões erradas e problemas de sucessão. Hoje, dados revelam que apenas 43% das empresas familiares alemãs conseguem fazer uma transição bem-sucedida, e menos de 25% têm um membro da família no conselho de administração.
Diante desse panorama desafiador, os modelos tradicionais de sucessão, que frequentemente se baseiam em gestões envelhecidas e cadeias sucessórias instáveis, precisam ser reavaliados. No entanto, esse momento crítico pode ser visto como uma oportunidade. A ressignificação da sucessão e a busca por novas formas de investimento são essenciais para valorizar o potencial transformador das novas gerações, unindo seus desejos, habilidades e obrigações.
Essa transição do conceito de “Família Empresária” para “Família Investidora” pode ser a chave para prolongar o ciclo de vida do patrimônio familiar, extrapolando as limitações da empresa que o originou. A diversificação de investimentos nesse novo modelo não apenas amplia os ativos, mas também perpetua o patrimônio ao longo das gerações.
No conceito de Família Investidora, as tecnologias são convertidas de ameaças em aliadas, constituindo novas áreas de negócios e se tornando atrativas para os herdeiros, que veem nelas oportunidades de inovação e crescimento.
Para que esse novo modelo tenha sucesso, é fundamental implementar uma governança estruturada e ativa. Isso inclui a formação de Conselhos Consultivos ou de Administração, um Conselho de Família, acordos de acionistas, gestão profissionalizada e planejamento sucessório. Um código de conduta claro e a divisão de responsabilidades entre os gestores familiares são igualmente cruciais na definição de uma governança eficaz.
Em resumo, “a capacitação contínua da família empresária, o olhar atento à governança familiar e corporativa, aliados à diversificação de investimentos, é o melhor caminho para a perpetuidade do patrimônio e do legado familiar”.
À medida que as empresas familiares navegam por tempos de transformação, a adoção de novas abordagens de governança será vital para garantir que prosperem nas próximas gerações.
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