O jovem herdeiro e o dilema da escolha profissional
Em 2010 um extenso trabalho de pesquisa feito por mim para a faculdade se transformou no livro De Herdeiro para Herdeiro. Uma das perguntas mais frequentes dos 40 herdeiros que entrevistei tinha relação com uma dúvida crucial: “Que trajeto e carreira profissional seguir: dentro da empresa familiar, respeitando um desejo da família; como empreendedor em carreira solo; ou noutra empresa que não a familiar, mas em área de interesse pessoal?”. Na verdade, eu mesmo me fiz esta pergunta várias vezes e respondê-la foi o principal motivador da pesquisa que virou livro.
É muito importante que o herdeiro faça, em primeiro lugar, um planejamento claro de seus projetos de vida, sendo necessário analisar e encarar diversas variáveis que lhe permitam tomar decisões corretas no presente, com impacto no futuro. De fato, o herdeiro deve refletir sobre os desafios e oportunidades de seu momento pessoal e profissional, além de suas responsabilidades como sócio e acionista dos negócios familiares. Também será essencial que analise seu perfil e avalie quais seus pontos fortes e fracos, para então orientar suas condutas e ações ao longo da vida. Dentro desse plano individual, não há como escapar ao fato de ser um herdeiro, portanto, é necessário que entenda como ocupar esse papel. É preciso, por meio de negociações com a família e a empresa, decidir se a carreira será desenvolvida na organização familiar ou noutra organização que não a envolva.
O foco do nosso trabalho tem sido a realização pessoal e profissional do herdeiro, bem como a opção de uma carreira na empresa familiar ou fora dela, abordando, inclusive, a carreira das mulheres como herdeiras de empresas familiares. A realização pessoal do herdeiro é tema essencial e diretamente ligado à empresa familiar, mas muito delicado. Por estar imerso em ambientes com públicos diversos – o da empresa e o da família – é natural que o herdeiro se sinta pressionado a tomar um caminho diferente daquele que mais o satisfaria. Por outro lado, o assunto levanta discussões sobre seu próprio futuro e sobre o futuro desses públicos.
A maioria dos fundadores acalenta o desejo – e ele é natural – de que a empresa continue e, de preferência, seja comandada pelos próprios filhos. Com isso, muitas famílias restringem ou dificultam o processo de tomada de decisão a respeito das carreiras por seus membros por enxergar apenas uma alternativa de sucesso: trabalhar na empresa familiar. Nesse caso, sob pressão, os herdeiros não avaliam alternativas para alcançar a realização a não ser aquela pré-determinada, pensando que só assim poderão conquistar o respeito dos familiares das gerações anteriores. Mas nem todos que seguem esse rumo serão felizes. Caberá a cada membro da família e, principalmente, a cada herdeiro descobrir sua vocação e seu caminho para a realização pessoal e profissional, bem como refletir sobre seu futuro e sobre as oportunidades oferecidas, além de perseguir o próprio sonho e, assim, agregar valor ao sonho coletivo.
Sabemos que superar expectativas dentro de uma família provedora, com membros de personalidade forte, implica, muitas vezes, que o herdeiro abra mão de sua individualidade e faça apenas aquilo que esperam dele. Na verdade, ele deve estar muito atento para descobrir quais são realmente seus desejos e ambições e tomar cuidado com as vontades e “planos prontos” dos pais. Ser feliz é um conceito muito pessoal, que precisa ser descoberto pelo herdeiro e conquistado ao longo da vida.
Sonhos são peças importantes dentre aquelas que podem dar sentido à vida. Em muitos casos, os sonhos são o ponto de partida de vários empreendimentos de grande importância na história da humanidade. Mas o desafio de descobrir e batalhar pela realização do próprio sonho é uma das grandes dificuldades enfrentadas por muitos herdeiros. O fato de terem nascido e sido educados numa família que lhes ofereceu tudo pode funcionar tanto no sentido de incentivá-los a buscar iniciativas próprias como também gerar uma dificuldade em impor suas verdadeiras vontades ou, ainda, levar a um comportamento de acomodação.
Há, entretanto, outros caminhos que devem ser considerados como opções futuras pelo herdeiro que não deseja trabalhar na empresa familiar. Um deles é o desafio de se tornar um empreendedor e ter a capacidade de transformar problemas em oportunidades, criando seu próprio negócio. Ainda há a possibilidade de o herdeiro optar por seguir uma carreira em outras empresas, continuando como sócio ou acionista na empresa familiar. Nos próximos posts, pretendo detalhar melhor essas alternativas.
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