Carlos Wizard: família unida, valores intactos

Ao fundar, em 1987, sua primeira escola de inglês, Carlos Wizard entraria de vez para o quadro dos empresários mais bem-sucedidos da história do Brasil. Em 2013, venderia a empresa — que naquele momento já era um grupo (o Multi), que englobava também Yázigi, Skill, Alps, SOS Computadores e Microlins — para o grupo inglês Pearson.
Carlos Wizard partiu para um merecido ano sabático de volta ao mundo que não chegou ao seu fim. Chamado pelos filhos oito meses depois de sua partida, retornou para adquirir a Mundo Verde (líder de varejo de produtos naturais no Brasil). Criou na sequência o Grupo Sforza, para administrar os negócios da família. Em apenas três anos, o portfólio da holding passou de uma para 14 empresas; entre elas KFC, Pizza Hut, Taco Bell e Aloha.
Hoje o faturamento delas juntas já supera em muito a venda do Grupo Multi. Impressiona tamanho tino para os negócios. Aos 61 anos, Carlos Martins tem uma gestão conservadora do grupo. Diversifica seus investimentos em várias áreas e conta com a ajuda da família para tocar a empresa para frente.
“Não criamos uma empresa para atender aos interesses da família. Criamos uma empresa para atender ao interesse do cliente, do sistema.” (Carlos Martins Wizard)
Ele, mesmo sendo o fundador, o presidente e o pai, não intimida de forma alguma os filhos, que têm liberdade de agir dentro do grupo, caso provem, racionalmente, que o negócio é viável. A gestão é muito profissional, pois todos os membros da família tiveram um preparo muito grande para estar no lugar em que estão. Aliás, de educação Carlos entende. Alguma dúvida?
O fundador acompanha de perto o trabalho dos filhos, sempre alinhando diretrizes da equipe de 1.500 funcionários, sem, no entanto, tolhê-los. A família, por lá, é muito valorizada e sabe conviver dentro de condutas bem definidas.
Carlos Wizard, que foi o mago das aulas de inglês, diz que da época de professor trouxe a capacidade de explicar conceitos complexos de forma simples. Sistemático, não perde tempo nas reuniões e acredita que não sejam necessários mais do que 15 minutos, no máximo 30, para resolver uma questão. Tudo isso dá dinamismo ao grupo.
Apostando alto em franquias — modelo de negócio que exige investimento menor do que uma fábrica ou varejo —, parece que mais uma vez Carlos está no caminho certo.
A Sforza conta com a ajuda de executivos competentes do mercado, que são escolhidos mesmo antes da aquisição das novas empresas. São sempre profissionais de primeira linha. É importante salientar que a Sforza também abre negócios que considera ter potencial de crescimento rápido, como a Aloha — com as filhas Thaís e Priscilla (especializada em óleos essenciais vendidos no sistema porta a porta).
Sempre cordial e direto, Carlos Martins concedeu a entrevista a seguir para a Revista FBFE.
FBFE: Quantos filhos o senhor tem?
Carlos Wizard: Tenho seis filhos, os gêmeos Charles e Lincoln, Thais, Priscila, Nicholas e Felipe.
FBFE: Como funciona o relacionamento entre vocês? Qual é o modelo que adotaram dentro da empresa?
Carlos Wizard: O nosso modelo é bem simples: durante a semana, de segunda a sexta-feira, somos 100% empresa. Tratamos tudo com o maior profissionalismo, tomamos as decisões baseados na razão, não misturamos a questão familiar com a questão empresarial, somos executivos, gestores, acionistas e estamos em busca de resultados. Já o sábado é destinado para a família, ou seja, fazemos nossas reuniões, almoços, jantares e comemoramos os aniversários. O domingo é reservado para a igreja. Nunca falamos de negócios nos fins de semana.
FBFE: E seus irmãos? Algum deles faz parte da holding?
Carlos Wizard: Não. É curioso porque minha esposa vem de uma família de oito irmãos, eu venho de uma família de sete, mas não criamos uma empresa para atender aos interesses da família. Criamos uma empresa para atender ao interesse do cliente, do sistema.
FBFE: Sua esposa também trabalha na holding?
Carlos Wizard: Ela trabalhou nos dez primeiros anos e depois ficou mais restrita ao ambiente familiar e à igreja, onde ela presta serviços comunitários com uma assiduidade bastante grande. Necessária.
FBFE: Como é a hierarquia dentro da holding?
Carlos Wizard: Esta é uma questão que combinamos desde o início. Embora eu tenha sido o fundador, seja hoje o presidente do grupo e pai ao mesmo tempo, não sou o dono da verdade. Tanto é que dou liberdade e autonomia para cada um na sua área. E eles, nesse sentido, fazem o que o bom senso determina. Se por acaso eles apresentarem um projeto que eu não consiga entender, dou a liberdade de me convencerem e demonstrar que é um projeto em que vale a pena apostar. O que sempre prevalece é o raciocínio ou a razão, e não a minha figura de fundador, patriarca ou presidente.
FBFE: Como profissionalizou a gestão de suas empresas e a relação com os filhos?
Carlos Wizard: Foi por meio da combinação de dois aspectos: por um lado, procurei e procuro até hoje dar o melhor grau de instrução para todos os filhos, indistintamente. Por outro lado, criamos nossos próprios conceitos, padrões e modelos de gestão, já incorporados à forma com que fazemos negócio.
FBFE: Como a religiosidade influencia a sua forma de administrar as empresas?
Carlos Wizard: acho que o aspecto da fé, acima da religiosidade, sempre teve um impacto muito grande na minha vida. Com o meu pai aprendi o valor do trabalho; com a minha mãe, aprendi o valor da fé. Eu acredito pessoalmente que quem tem fé em Deus leva uma vida mais regrada, mais concentrada, tem mais senso de organização, se relaciona melhor com as pessoas, enfrenta as dificuldades de forma mais positiva. Por isso, sou sempre grato aos meus pais por terem me apresentado a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que me deu toda essa base de fé. Por meio desse contato acabei seguindo um caminho que me deu mais disciplina, mais determinação e mais direção. Então, certamente a influência da Igreja Mórmon teve um grande impacto no desenvolvimento empresarial.
FBFE: É comum ter receio de investir no Brasil por causa de leis trabalhistas retrógradas, entre tantos outros problemas. Vemos que nada disso o intimida. Como lida com esses desafios impostos pela precariedade do país?
Carlos Wizard: Esta é uma pergunta recorrente e importante. Falando bem claramente, é tudo uma questão de mentalidade, porque enquanto nós vemos um Brasil retrógrado, conforme você citou, com leis trabalhistas da década de 50, com uma carga tributária absurda, falta de estrutura, incentivo zero por parte do governo, infraestrutura zero, longe de ser competitivo se comparado a outros países, mesmo assim, nós temos 30 novos milionários por dia no Brasil. Hoje 30, mais 30 amanhã, e assim por diante. No fim do mês, são quase 1.000 milionários novos no país. De um lado temos desgraça, tristeza e miséria; do outro temos riqueza, crescimento e fortuna. Então é uma questão de mentalidade.
FBFE: Em qual desses Brasis o senhor vai querer viver?
Carlos Wizard: A partir do momento em que você aceita que esse é o custo Brasil, que isso faz parte de se fazer negócio neste país, você fica blindado de todas as circunstâncias e vai desenvolver o seu negócio independentemente das adversidades que enfrentamos no dia a dia.
FBFE: Como o senhor enxerga a crise política, moral e ética no país?
CW: Eu acredito que de certa forma o Brasil nestes últimos anos viveu um momento inédito, ou seja, estamos tendo pela primeira vez casos de investigação, de condenação e de prisão de políticos com nomes importantes. Não tínhamos esse cenário há 10, 15 anos. Mas temos agora. Isso tudo está criando duas realidades: primeira, o político vai ficar muito mais atento às ações que ele toma e, segunda, a população de uma forma geral está mais consciente e mais envolvida nos rumos políticos do país.
FBFE: O que o senhor mudaria para que o Brasil começasse a se aprumar?
CW: Investiria em educação. A base de tudo.
FBFE: O que traz do tempo de professor para a carreira de megaempresário?
CW: Ensinar conceitos complexos de forma simples.
FBFE: Qual é a sua maior virtude?
CW: Ser um líder.
FBFE: Qual a qualidade que você mais admira no homem?
CW: A capacidade de realização.
FBFE: O que considera o seu maior feito?
CW: Minha família.
FBFE: Qual é a sua paixão atual?
CW: O estudo do chinês, ao qual me dedico há três anos. Já fiz palestras na China falando mandarim e já lancei dois livros por lá.
Fonte: Revista FBFE – Edição 02
Texto: Marília Muylaert
Foto: O Globo
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