Roberta Zen e o software Roda GC, um “ovo de Colombo”
O perfil empreendedor de Roberta Zen está no sangue. Ela é acionista da empresa catarinense Zen S.A. – companhia de sua família que produz componentes automotivos para o mercado nacional e também exporta para mais de 60 países. Com o irmão Daniel fundou a Roda Governança Corporativa, cujo software Roda GC pode ser definido como ferramenta facilitadora da comunicação entre todos os stakeholders e membros familiares ligados ao negócio, além de uma forma prática e racional de gestão de documentos dos negócios.
Por terem crescido em um ambiente empresarial, Roberta e Daniel acompanharam desde muito cedo as rotinas administrativas da empresa da família. Tal oportunidade fez com que percebessem os “ruídos” existentes na comunicação entre a família empresária, acionistas, conselho de administração, diretoria e demais setores do empreendimento, e começassem a engendrar um jeito de solucioná-los.
O Roda GC resultou da iniciativa dos irmãos Roberta e Daniel Zen para encontrar uma forma de resolver o problema de comunicação na cúpula da empresa, aí incluída a família. Trata-se de um aplicativo disponibilizado recentemente no mercado e que permeia três círculos da Governança Corporativa: gestão, propriedade e família empresária (ou sociedade). Para desenvolvê-lo e aperfeiçoá-lo Roberta e Daniel trabalharam dois anos e têm como meta fechar 2016 com uma clientela de 100 empresas.
Em entrevista ao Gente que Faz, editoria do blog FBFE, Roberta Zen rememora sua trajetória como empresária e fala do Roda GC, cujo acesso é feito online em aplicativo para iOS, Android e Windows Phone. “Em uma empresa familiar, quanto melhor a comunicação menor o conflito”, costuma dizer ela. Acompanhe:
FBFE: A Roda é filhote de um grupo familiar muito grande, incluindo uma indústria, não é isso?
Roberta Zen: Sou herdeira de uma empresa do meu avô. Ele faz impulsor de partida, que é um componente do motor de arranque do carro, com 55 anos de mercado e quase mil colaboradores diretos. A empresa nasceu em São Paulo e voltou para a cidade natal dele, que é Brusque, em Santa Catarina. Aí meu avô desenvolveu seu negócio com muita dificuldade e a família foi crescendo. Ele teve seis filhos e seu irmão, sócio na companhia, três. Minha mãe era a mais velha, controlava as finanças e foi diretora da holding. Quando ela faleceu, em 1999, meu avô era prefeito de Brusque e meu pai presidia a indústria, que ainda é o principal negócio do grupo.Minha mãe era a principal executiva de um negócio em que toda a família trabalhava. Com seu falecimento, houve toda uma ruptura na administração, além de todo o sofrimento da família e amigos, por termos perdido uma pessoa tão importante.
FBFE: Deve ter sido muito difícil para você.
Roberta Zen: Sem dúvida, no dia seguinte a empresa tem que continuar funcionando e quem ficou precisa administrar tudo. Eu tinha 15 anos na época. Fui aprendendo com meu pai e meu avô o que podia e estudando toda essa questão de sucessão, herança, administração, de como me comportar em cada reunião, em cada empresa. Meu avô foi contratando consultorias que nos ajudaram nesse processo de orientar a família sobre qual seria o melhor caminho a seguir. Fui aprendendo, e me revoltando algumas vezes, também.
FBFE: Absolutamente normal para uma adolescente, não?
Roberta Zen: É, posso dizer que superei essa fase. Aos poucos retomamos o rumo. Hoje a empresa está super organizada, possui Conselho de Administração e sua gestão é profissionalizada, com várias avaliações de desempenho. Meus tios, que trabalhavam na empresa, hoje estão somente no Conselho. E, como em todo processo de sucessão, este se deu de forma gradativa. Ao longo do tempo, por secretariar algumas reuniões, fui percebendo a necessidade de trazer a tecnologia como facilitadora para os relacionamentos no meio empresarial.
FBFE: A ideia do aplicativo Roda GC teria surgido para suprir essa necessidade?
Roberta Zen: Isso mesmo. O Roda é um software, um aplicativo, no qual a gente organiza as reuniões da cúpula corporativa, da família empresária, e em que todas as informações são guardadas. O e-mail ficou desatualizado. Ter um aplicativo que reúne todos os documentos e informações que possam ser compartilhados por todos os membros envolvidos no processo e poder acompanhar isso no celular com certeza é uma nova, e senão a melhor, forma da empresa se comunicar, hoje em dia.
FBFE: Você se especializou em Governança Familiar, então, e aí criou esse software?
Roberta Zen: Eu me formei em Administração de Empresas, trabalhei como executiva para meu pai e meu avô, e sempre procurei me capacitar com as consultorias contratadas, além de participar de treinamentos e coachings. Minha mãe sempre me levou para viajar. Eu viajei muito. Aprendi outras línguas. Tenho essa visão de que as pessoas precisam se comunicar da melhor forma possível. Em uma empresa, quanto melhor a comunicação menor o conflito. Quando você tem a informação, por pior que ela seja, você sabe o que está acontecendo. É no momento da crise que a empresa deve mostrar suas estratégias, seus resultados, aonde quer chegar e como pretende superar as dificuldades. Não adianta camuflar resultados, porque isso vai gerar insegurança nos sócios, nos investidores e na própria família empresária.
FBFE: Trata-se de uma nova visão do empresário no Brasil. Vocês jovens trazem um outro olhar para dentro das empresas.
Roberta Zen: Sim, a gente se preocupa com a empresa da família e gosta de saber o que está acontecendo. Procuramos trazer inovação, soluções que facilitem o dia a dia da empresa da família. O Roda GC se adapta às necessidades de cada negócio. Dá acesso ou não às informações que serão compartilhadas, as que um herdeiro pode ou não acessar. Algumas informações são sigilosas, mas as de mercado e sobre a situação geral da empresa são importantes para o herdeiro saber o que irá fazer da vida. Às vezes ele é um profissional que pode ajudar muito dentro da empresa, mas para isso tem que saber o que a empresa faz, seus valores e posicionamento no mercado. Ninguém se apaixona por aquilo que não conhece.
FBFE: Roda são as iniciais do seu nome e do nome de seu irmão. Vocês se dão bem, então?
Roberta Zen: Nós nos damos muito bem. A gente aprendeu, desde pequenos, a se complementar. É um casal de irmãos com dois anos de diferença. Sou a mais velha e o tratava como meu irmãozinho. E hoje ele cuida de mim com muito carinho. A gente tem uma relação de cumplicidade, somos muito unidos. Com o Roda, hoje, eu faço mais a parte comercial e ele, a implantação. Então temos de ter uma comunicação bem bacana. O cliente gostou dessa ou daquela parte do sistema? Podemos focar nisso ou naquilo? A gente tem o Roda do Roda, o local online onde a gente se comunica.
FBFE: O Roda GC surgiu como uma solução de comunicação entre sua família e as empresas e tornou-se um aplicativo para colaborar com a comunicação de outras famílias empresárias. É isto?
Roberta Zen: A gente percebeu que precisava de um ambiente na internet que fosse confidencial, seguro, e onde as informações ficassem guardadas e protegidas. Mais: que o histórico da evolução da Gestão Corporativa fosse preservado e que todos os trabalhos de consultoria a gente conseguisse armazenar para consultas e também para as próximas gerações. Conforme a coisa foi evoluindo percebemos que todas as famílias empresárias precisam disso.
FBFE: Na sua opinião, quais são hoje os principais desafios da empresa familiar no Brasil?
Roberta Zen: Perpetuidade. E isso tem a ver com passar os negócios de uma geração a outra sem conflitos, sem brigas. Para isso você tem que ter reuniões, muitas reuniões, e também tem que ter voz nessas reuniões, assim como aprender a escutar e conseguir ter comportamentos adequados a cada momento. É difícil para uma família empresária se colocar como ouvinte, escutar pessoas que não são da família falarem sobre o seu negócio.
FBFE: A tendência é achar que se sabe tudo, ainda mais quando se tem sucesso.
Roberta Zen: Isso mesmo. Quanto mais sucesso uma empresa tiver, mais terá que escutar o mercado, consultores e conselheiros externos, que vão dar outra visão do seu negócio, o que poderá levá-la a crescer muito mais. O grande desafio é se perpetuar no mercado de forma forte e com ótimos colaboradores, porque se a empresa crescer muito você não poderá tocá-la sozinho.
FBFE: O Roda GC pode contribuir para um processo de sucessão mais harmonioso?
Roberta Zen: Isso. O Roda GC é a plataforma, o ambiente no qual as pessoas da família, herdeiros inclusive, vão se comunicar sobre a empresa. Em outros aplicativos você vai falar sobre sua família, sobre sua vida, vai postar fotos. No Roda GC você vai falar sobre o seu negócio, de forma corporativa.
FBFE: Além daqueles que você já mencionou, que outros benefícios a família empresária e os negócios podem obter ao utilizar esse software?
Roberta Zen: Ele melhora fundamentalmente a comunicação entre a Diretoria – Presidência-Conselho-Assembleia-Comitês. Ao invés de mandar e-mails para cada uma das pessoas envolvidas na gestão da empresa, a informação é disponibilizada em um determinado local dentro da plataforma, no qual as pessoas irão acessá-la e comentá-la. Você visualiza muito melhor a discussão e irá tomar suas decisões de forma mais fundamentada. O Roda GC é compatível com todos os tipos de arquivos, de quaisquer programas.
FBFE: Pode-se dizer que é possível tomar decisões com base em opiniões variadas?
Roberta Zen: Você escolhe quem pode ver aquela publicação, seleciona as pessoas e pode promover votações ali mesmo, online. Então, além de todos os históricos dos regimentos e das atas de reuniões ficarem muito transparentes, pois são armazenadas no Roda GC e podem ser acessados pelas pessoas selecionadas naquela publicação, há também a facilidade de se manter discussões corporativas na própria plataforma e tudo ficar registrado.
FBFE: Que dicas você daria à empresa familiar hoje?
Roberta Zen: Qualquer empresa, mas principalmente a empresa familiar, precisa se profissionalizar. Profissionalizar o herdeiro – o familiar que trabalha na empresa – e separar os chapéus, assim como orientar seus comportamentos é fundamental. Mas isso requer muito treinamento. Governança é treinamento.
FBFE: Com “separar os chapéus” o que você quer dizer?
Roberta Zen: Quero dizer que, se existe um familiar na Presidência da empresa, como gestor ele tem uma função, como filho do dono tem outra e como acionista, se for sócio, deverá ter outra ainda e, em cada uma, um comportamento especial. É nesse tipo de treinamento que as famílias empresárias precisam investir – em como se comportar a cada momento. Se estou na gestão preciso ter um comportamento seguindo determinada ética e regras de gestão. Se sou herdeiro tenho de ter outro comportamento, minhas questões serão enviadas para tal pessoa dentro da empresa. Não posso me considerar dono da verdade, achar que sei tudo por ser da família. Preciso me profissionalizar, ser um bom sócio e saber o que esperar da empresa, e o que a empresa espera de mim.
FBFE: Que melhorias essas colocações, que podem soar como novidades para muitas famílias empresárias, devem proporcionar à sociedade brasileira?
Roberta Zen: Quanto mais perpétuas forem as empresas familiares, mais empregos e mais investimentos teremos – é aí que a gente ganha. O país precisa ser industrial, precisa produzir. A maioria das indústrias no Brasil são empresas familiares. Para ter geração de empregos, ter investimentos, para ter uma economia saudável, essas empresas precisam estar bem. Então elas precisam tanto de uma boa Governança Corporativa quanto de uma boa Governança Familiar. A família precisa estar bem, precisa estar profissionalizada e ter os fundamentos da Governança incorporados para a empresa funcionar e se perpetuar.
A empresa Roda Governança Corporativa é patrocinadora oficial do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE.
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