Cury Filho acredita que as sucessivas crises que ocorrem em escala global, quase que na velocidade da luz – o exemplo mais recente é a guerra entre Israel e Palestina -, demandam um novo olhar em relação a governança e a gestão do patrimônio das Famílias Empresárias.
Em um mundo de policrise, há cada vez menos espaço para o antigo modelo de empresa familiar. Aquele modelo de negócio no qual o “dono” é proprietário e gestor, com processos decisórios centralizados e a operação do dia a dia a cargo dos membros da família. Com o fundador focado 100% na gestão diária do negócio, não é de se estranhar que falte tempo para pensar estrategicamente, com visão de futuro e longo prazo.
Cury Filho discorre sobre a nova face da governança familiar, que tem como objetivo principal transformar a Família Empresária em Família Investidora, uma evolução do modelo anterior. A diversificação de investimentos transcende o negócio, aumenta seus ativos e perpetua seu patrimônio ao longo das gerações. Há uma preocupação genuína em garantir e planejar a longevidade patrimonial como um todo.
Na opinião do palestrante, “o ciclo de vida das empresas familiares pode ser curto, mas a Família Investidora tem horizonte de longo prazo, busca alternativas para perenizar sua riqueza através das gerações, seja como acionista ou como investidor. O modelo se assemelha a um family equity firm”.
Como descreve o professor Thomas Zellweger, da universidade suíça St. Gallen, a família empresária se caracteriza por uma governança familiar e corporativa estruturada e ativa (Conselho Consultivo ou de Administração, Conselho de Família, Acordo de Acionistas, Gestão Profissionalizada, Planejamento Sucessório, Código de Conduta, divisão de responsabilidades dos gestores familiares e estruturação do family office).
As turbulências recentes, especialmente o conflito Rússia e Ucrânia, mudaram a percepção de risco de investimentos. A geopolítica supera a economia como preocupação principal, seguido pela recessão e pela inflação, segundo o relatório UBS Global Family Office 2023.
Adequar seu negócio e investimentos as práticas ESG se tornou uma questão de sobrevivência, sem volta. A família investidora entende que sustentabilidade e lucro podem, sim, caminhar juntos. Conforme destacou o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, o mundo está se movendo para “uma economia verde, sustentável, e agora, para uma era de inteligência artificial”. Nesse contexto, disse, o futuro do Brasil e da América Latina é promissor, mas depende de alinhar indústria, meio ambiente e tecnologia.
Ter um propósito claro é também uma forma de motivar e engajar as novas gerações e atrair talentos. Abrir espaço para que os herdeiros tenham oportunidade de criar negócios de impacto, por exemplo, é uma forma de diversificação e de transferência geracional de patrimônio, agregando valor à família e ao seu legado.
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