Juliana Gonçalves, jornalista e acionista do Diário do Comércio Empresa Jornalística, construiu uma carreira sólida como professora e consultora, dedicando-se ao desenvolvimento e à profissionalização de famílias empresárias no Brasil. Com 14 anos de atuação na Fundação Dom Cabral e experiência prática em sua própria família empresária, Juliana acumulou uma vasta expertise em governança corporativa.
Entre suas principais áreas de atuação estão a criação de Conselhos de Administração, de Família, de Herdeiros e de Sócios; elaboração de Acordos de Acionistas e Protocolos de Família; planejamento sucessório; desenvolvimento familiar; e mediação de conversas complexas. Essa bagagem enriquece seu trabalho como consultora e impulsiona sua iniciativa, a Escola da Empresa Familiar (EFE).
Essa experiência foi compartilhada durante o Family Office Summit Brazil 2024, realizado em 6 de novembro, em Belo Horizonte. Na plateia do evento, promovido pelo FBFE – Fórum Brasileiro da Família Empresária, estavam presentes representantes de 14 famílias empresárias com as quais Juliana já colaborou, seja pela Fundação Dom Cabral ou por meio de seus próprios projetos de consultoria.
Integrante da terceira geração do Diário do Comércio, composta por 18 primos, Juliana relembrou que, aos 14 anos, o teste vocacional já apontava sua inclinação para o negócio familiar. Assim, formou-se em Jornalismo e iniciou sua carreira no jornal, antes de seguir para a TV Bandeirantes, onde trabalhou por quase cinco anos como jornalista e apresentadora de telejornal.
Mais tarde, retornou ao Diário do Comércio, então sob a gestão de seu pai. Dois anos depois, com o falecimento dele, Juliana enfrentou desentendimentos familiares. “Para mim, era mais importante preservar boas relações familiares do que manter aquele projeto de vida”, disse. “Foi o momento mais difícil da minha vida profissional: escolhi sair do Diário do Comércio.”
Após essa decisão, dedicou-se à comunicação empresarial, lecionou na PUC Minas e concluiu seu mestrado. Em seguida, foi convidada a integrar a equipe da Fundação Dom Cabral, onde permaneceu por 14 anos na área de empresas familiares.
Há sete anos, fundou sua própria consultoria, a KFamily Business, sócia da Kienbaum Brasil. Mais recentemente, criou a Escola da Empresa Familiar, voltada ao desenvolvimento de membros de famílias empresárias. “Acabamos de iniciar a terceira turma deste programa em Belo Horizonte e estamos trabalhando para formar a primeira em Campinas.”
Dados apresentados por Juliana reforçam sua dedicação ao tema: globalmente, 85% das empresas são familiares, com pequenas variações por país. No Brasil, elas representam 65% do PIB e mais de 75% dos empregos. Contudo, apenas 4% dos negócios familiares alcançam a quarta geração. “A taxa de mortalidade é assustadora. E ‘morte’ aqui não significa necessariamente falência, mas a saída da empresa das mãos da família fundadora”, ressalta.
Ela citou como exemplo o caso da Chocolates Garoto, fundada por dois irmãos alemães. “Um dos irmãos faleceu logo no início, e os filhos que assumiram a sociedade passaram anos em disputa judicial com o tio, até que venderam a empresa à Nestlé por um valor abaixo do mercado, devido aos conflitos societários”, explicou Juliana Gonçalves.
Para Juliana, muitos conflitos surgem de dificuldades nos relacionamentos interpessoais entre herdeiros, além de decisões como seguir carreiras fora do negócio ou mudar de país. “Por que não antecipar e definir como lidar com essas situações?”, questionou.
Ela enfatizou no evento, que nem todas as empresas familiares estão destinadas a permanecer sob controle da família. Falta de interesse, maturidade ou perfil podem levar a outros caminhos, como venda, fusão, transformação em holding ou contratação de executivos externos. “Antes de sermos empresários, somos uma família. Ser uma família empresária exige profissionalização, conhecimento e aprendizado contínuo.”
Juliana Gonçalves encerrou com uma reflexão essencial: “O que queremos para o futuro? Qual é o propósito da nossa família enquanto empresária?” Sem essas respostas, o tempo passa e pode se tornar tarde demais para realinhar os objetivos.
Ciente dos desafios, Juliana reforça a importância do preparo para lidar com conflitos. “As famílias já estruturadas conseguem encaminhar situações difíceis de maneira muito diferente daquelas que não têm preparo e maturidade de família empresária”, concluiu.
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