Investimento em tempos de crise por Carpa Family Office

O case da criação da Carpa Family Office teve início com a venda bilionária da empresa da família Colombo que iniciou seu negócio com uma padaria e que depois transformou-se em uma grande produtora de biscoitos no Rio de Janeiro, a Piraquê.
Um dos seus herdeiros, Celso Colombo Neto, que já atuava no mercado financeiro como agente autônomo, conseguiu estruturar o Family Office para atender sua família e percebeu que os serviços oferecidos poderiam ser de grande utilidade para outras famílias, transformando a Carpa em um Multi Family Office.
Pedro Lerias, diretor de Gestão da Carpa, foi mais um importante destaque do Family Business Investment 2022 em Belo Horizonte onde apresentou uma palestra sobre o tema de “Finanças Comportamentais”.
Pedro iniciou sua apresentação questionando o quanto o tema Finanças Comportamentais está ligado às emoções e o quanto que estas interferem em nossos processos de tomada de decisão.
Foram apresentados diversos estudos mostrando que um dos vieses mais familiares é o da ancoragem; por exemplo: um investidor que comprou uma ação a R$10,00 e esta ação hoje está R$5,00, ele, por estar ancorado no preço de aquisição, simplesmente, não se importa quão remota é a chance desta ação se valorizar, ele mantém o papel porque tem os R$10,00 como sua referência para fazer qualquer tipo de mudança no investimento.
“Tivemos um caso real recentemente em que um investidor que precisava mandar dinheiro para fora, queria fazer uma diversificação e precisava comprar dólares. Ele havia comprado a moeda americana por R$ 2,80 há pouco tempo e o dólar, semana antes da discussão, tinha rompido a barreira dos R$ 3,00 e ele estava muito ancorado no valor que tinha adquirido a moeda anteriormente. Se ele manteve essa referência, está esperando até hoje para efetivar a compra”, conta Pedro.
Ele separou dois vieses pelos quais todos estão passando hoje por causa dos eventos recentes (COVID, guerra, inflação alta, entre outros). O primeiro é o viés da recência, que é o apego aos fatos recentes onde se costuma perpetuar, projetar indefinidamente cenários positivos e negativos. Quando o cenário é muito positivo as pessoas não conseguem imaginar o que poderia acontecer para mudar o cenário e vice-versa.
O outro viés, o da disponibilidade, tem a ver com os eventos marcantes.
Neste caso, é possível citar o investidor que começou a investir no pré-covid, em janeiro de 2020, passou por um evento muito marcante e esse evento irá balizar o processo de tomada de decisão no futuro”, diz Pedro.
Ele mostrou uma pesquisa recente feita por um banco americano que demonstra que o mercado vai buscar consenso e vai aglomerar em torno de uma tese. A pesquisa, feita com gestores, investidores profissionais, mostra a expectativa e a visão dos gestores sobre a possibilidade de haver uma recessão.
Em 2009, há um pico e em 2020, pós-covid, também. A expectativa de que haverá uma recessão, sem falar em duração ou profundidade, na prática faz com que o mercado tenha menos ações e mais caixa, o que demonstra que o mercado trabalha com consenso e já o antecipa os movimentos impactando preços e tomada de decisão.
Voltando para o conceito dos vieses, Pedro apresentou um gráfico onde é possível demonstrar o comportamento cíclico de mercado, onde o ponto de partida é o otimismo, passando pela euforia onde os preços vão acompanhando as compras e, culminando no ponto de máximo risco. Neste ponto, o viés de recência está em sua plenitude (o cenário otimista que está sendo perpetuado). Então os preços passam a refletir o cenário otimista eterno.
“Nesse momento o investidor não vai atuar. Vai tomar a decisão de comprar”, diz Pedro. “Mas em algum momento, por qualquer que seja o gatilho, o ciclo se inverte. Quando alguém fala “sell” e todos começam a vender veremos novamente o viés da recência tomando conta do processo de decisão”, conta Pedro, que alerta que este é o momento de maior oportunidade. Neste movimento cíclico, o investidor oscila entre a ganância, estimulado por um cenário positivo que parece se perpetuar, e o medo, no momento que, em teoria, tem as maiores oportunidades. Nosso desafio é criar um processo que minimize esses vieses psicológicos na tomada de decisão”, diz.
O mercado brasileiro precisa perder a visão de que bolsa é cassino. “Com a taxa de juros a 14% há um estímulo para se investir apenas em ativos de renda fixa”, diz Pedro da Carpa Family Office.
“Mas no final das contas o que acaba acontecendo é que o investidor quer operar o mercado e acaba operando só uma parte dele. Opera apenas no momento que há pânico e isso é muito negativo para os resultados dos investimentos” completa.
Pedro falou ainda de outros temas ligados a investimentos: Market timing diz respeito ao investidor que quer sair e entrar no mercado tentando buscar o melhor momento para fazer isso. Pedro alerta que as probabilidades não estão a favor dele: permanecer investido promove resultados superiores a longo prazo.
É possível comprometer uma boa parte dos ganhos perdendo alguns poucos bons dias. Pedro apresentou um gráfico onde eram demonstradas diversas probabilidades: ter filhos gêmeos, ganhar uma medalha, ser atingido por um raio 4 vezes e o de acertar os 10 melhores dias da Bolsa de valores em uma década, sendo esse último o de menor incidência estatística.
Como exemplo cita que em 2017, depois do caso Joesley, o investidor que saiu do mercado e não voltou, deixou algum dinheiro na mesa. Na bolsa, isso é mais evidente ainda. Queda de bolsa da ordem de 10 a 20% acontece pelo menos uma vez ao ano. 50% são mais raros, mas já aconteceu (pré-impeachment da Dilma) e quem se manteve investido, teve um retorno de 175% contra 60% da taxa de juros. No pós-covid, fala-se de 62% contra 14%. Tudo isso mostra que a manutenção do investimento a longo prazo traz bons resultados.
“A urgência em se operar no mercado por estresse, pode custar muito caro”, constata Pedro da Carpa Family Office.
Então, como construir um portfólio que blinde o investidor desse efeito?
Uma das formas de se avaliar risco é avaliar a volatilidade que é uma medida fácil de ser obtida, mas que não diz muito, pois é abstrata. Para isso, usamos uma régua que posiciona a carteira em relação a alternativas de investimento.
A tomada de decisão de um certo investimento, com uma certa volatilidade, deve vir de uma comparação com outros ativos como percentual de CDI, o CDB de um grande banco, a carteira de fundos multimercados, a carteira de títulos atrelados, a inflação (aqui cabe um ponto: ela tem variação de preços), a carteira de fundos imobiliários, o dólar, o Bovespa, o Bitcoin entre outros.
É importante que o investidor entenda que o percentual que ele defina no seu portifólio tenha alguma relação com os indicadores de mercado.
“Quanto maior a volatilidade, maior o retorno esperado. Todavia, quanto maior a volatilidade, maior a variabilidade do retorno no curto prazo. Ele está sujeito a eventos mais extremos no curto prazo”, explica Pedro da Carpa Family Office.
A probabilidade de o índice de ações superar o CDI em um período de 2 anos é de 55%. Se o período for estendido para 10 anos, a probabilidade passa a ser de 84%.
O tempo tem de ser sempre observado em uma tomada de decisão de investimento de risco. O risco percebido a longo prazo é menor.
Sabendo disso, Pedro diz que é necessário definir o perfil de risco. O que no Brasil é difícil. E a alocação estratégica de longo prazo. É preciso escolher também os ativos por meio de uma curadoria apurada e ter uma visão de alocação tática com consciência de que ajustes de portfólio deverão ser feitos, além de monitorar também os riscos da maneira adequada.
O investidor profissional primeiro define o perfil de risco, depois a alocação estratégica que vai refletir melhor aquele perfil de risco e, aí, vai buscar de maneira eficiente a seleção de ativos. Chega-se a um portfólio balanceado e, finalmente, volta a uma avaliação do perfil de risco e, caso necessário, volta também para o início do ciclo.
“Os vieses comportamentais afetam todo mundo, até os investidores profissionais, mas quando se cria um processo de se investir, o efeito deles é muito minimizado no resultado dos investimentos”, finaliza Pedro da Carpa Family Office.
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