Sérgio Cavalieri, acionista do Grupo Asamar, contou durante o Family Office Summit Brazil 2024, realizado em Belo Horizonte (MG), a saga do conglomerado, fundado em 1932, pelos engenheiros Alberto Woods Soares, Amynthas Jacques de Moraes e Antônio Faria Ribeiro. A história envolve uma rica experiência empresarial em que se entrelaçam valores familiares transpostos para os negócios, cuidado com a sucessão familiar na passagem de bastão entre gerações e superação de períodos difíceis.
Os fundadores foram colegas de faculdade em Ouro Preto e estabeleceram laços familiares entre si. Moraes e Ribeiro acabaram casando-se com irmãs de Soares, criando ali as bases de uma empresa familiar que conseguiu sobreviver a crises e a dilemas sucessórios.
Fundado com o objetivo de atuar com construção pesada de obras públicas, o Grupo diversificou atividades nesses mais de 90 anos de atividades, adaptando-se a diferentes conjunturas econômicas e setoriais. Atualmente, tem negócios estabelecidos nas áreas de gestão patrimonial, desenvolvimento imobiliário urbano, energia renovável, construção em aço, tecnologia da informação e venture capital.
Na história do Grupo, uma pessoa exerceu papel central na determinação dos valores que se irradiaram pelas sucessivas gerações e impregnaram as suas atividades: Emília Woods Soares, conhecida na família como vovó Miluca, mãe de Alberto Woods Soares.
“Ela era uma figura muito forte, exigente, rigorosa, de uma formação religiosa muito sólida. Vovó Miluca foi responsável por algumas decisões importantes na história da família”, relembra Sérgio.
Entre essas decisões está a criação da própria empresa. Depois de formados, os colegas, que já eram cunhados, atuavam cada um com a execução de pequenas obras. “Vovó Miluca questionou por que eles não trabalhavam juntos”, recorda Cavalieri.
Surgiu, então em 1932, a empresa Alberto Woods Soares, Amynthas Jacques de Moraes e Antônio Faria Ribeiro Engenheiros Associados. Como na época o meio de comunicação mais eficiente era o telégrafo, eles adotaram como endereço telegráfico a palavra Asamar, que resulta da união das letras iniciais dos nomes e sobrenome dos três sócios. Mais tarde, o Grupo passou a usar esse mesmo endereço como denominação do grupo empresarial.
“Os sócios tinham características complementares. Moraes era o grande empreendedor, visionário, percorria todo o Brasil inteiro, trazendo muitos negócios novo e muitas oportunidades. Soares, descendente de ingleses, destacava-se pela disciplina e senso de organização, atuando no back-office, para organizar as inúmeras alternativas e oportunidades apresentadas por Moraes. Ribeiro, de origem portuguesa, era muito trabalhador, aquele que liderava a linha de frente, que acompanhava os trabalhadores na área de construção”, descreveu Cavalieri.
A combinação dessas características, somada aos valores herdados de vovó Miluca, formou a base da história do Grupo, marcada pelo compromisso de empreender com ética e sustentabilidade. “Não tenho a menor dúvida de que os aspectos que nos levaram a atuar de forma ética, com preocupação com a sustentabilidade e respeito às pessoas foram os valores cristãos herdados de vovó Miluca”, disse Sergio Cavalieri.
Como toda empresa familiar longeva, o Grupo Asamar vivenciou momentos de prosperidade e de dificuldades, incluindo a superação de uma concordata. Mesmo nos momentos mais difíceis, a preocupação com a preservação dos valores esteve presente. Cavalieri lembra que, na época da construtora, a empresa sempre entregou obras com elevado padrão de qualidade, mesmo enfrentando atrasos nos pagamentos e, em algumas situações, sem receber integralmente o que era devido pelo governo.
Na década de 1970, a construtora entrou em declínio e o Grupo passou a atuar na fabricação de cimento, um negócio com grande geração de caixa, dando início a uma fase de expansão e diversificação. O Grupo fundou uma transportadora, reforçou as áreas de mineração e de reflorestamento, investiu em uma concreteira e em uma empresa agropecuária.
O Grupo começou a pensar, então, na passagem da segunda para a terceira geração. Nessa época, surgiram algumas discussões, com alguns sócios buscando mais liquidez e outros defendendo que os recursos excedentes financiassem a expansão do Grupo. Apesar das divergências, destaca Cavalieri, no Family Office Summit, em quase 100 anos de convivência, não houve nenhum caso de briga ou rompimento societário ou familiar
A transição da segunda para a terceira geração durou praticamente dez anos, em um processo que contou com o apoio da Fundação Dom Cabral e envolveu o espelhamento com outras famílias empresárias do exterior. Desse processo surgiu um documento, batizado internamente de “13 por 13” – foram 13 reuniões envolvendo 13 acionistas – que estabeleceu as regras para o ingresso da terceira geração nas empresas. O documento definiu a presença de 12 herdeiros das famílias nas empresas.
Segundo Sergio Cavalieri, esse acordo resultou em uma sucessão “mal resolvida”. Em 1996, o Grupo vendeu a fábrica de cimento, os ativos de mineração e a concreteira – o correspondente a 70% de seu patrimônio na época – para o grupo francês Lafarge. A transação possibilitou um novo rearranjo entre os acionistas e distensionou a convivência entre eles. “Os que queriam mais liquidez pegaram os recursos e aplicaram; os que tinham uma visão mais voltada para o desenvolvimento investiram nos negócios remanescentes e partiram para criar novos negócios, com novo formato societário e acionistas alinhados nos propósitos futuros”, explicou.
Em meados da década de 2000, algumas famílias acionistas decidiram vender as suas participações, que foram adquiridas por outros acionistas. Das 22 famílias que originalmente formavam a segunda geração, hoje restam 11 famílias investidoras nos negócios do Grupo Asamar. Em 2021, o Grupo elaborou o Plano Estratégico “Asamar 2032” – ano que completará o seu centenário. Entre outras diretrizes, o plano estabeleceu o início do processo de formação dos acionistas da quarta geração, composta por 75 pessoas, número que, por si só, dá uma dimensão do tamanho deste novo desafio.
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