Traudi Guida, fundadora da Le Lis Blanc, depois de quase 30 anos à frente da marca, vendeu a sua empresa e voltou a empreender junto com o filho em um novo negócio, a rede de lojas SouQ. Os produtos da loja, que é inspirada nos mercados árabes, são garimpados pelo mundo à fora.
Traudi Guida, há 54 anos, ingressou no mundo do varejo. Neta de imigrantes alemães, ela contou que os avós, que tinham oito filhos, passaram por dificuldade financeira e só fizeram o primário. A mãe dela, como era caçula, chegou numa hora economicamente mais favorável para a família e pôde estudar.
Aos 20 anos, a mãe de Traudi foi para a Alemanha atrás do namorado. A segunda guerra estourou, e sua mãe teve de ficar por lá por quase sete anos. O namoro não foi para frente, mas lá, a mãe de Traudi conheceu seu grande amor. E como tudo estava bloqueado, sem notícias, a família no Brasil, achou que ela havia morrido.
Por rádio amador, a mãe de Traudi avisou aos familiares que estava viva e foi resgatada novamente para o Brasil, grávida de 07 meses de Traudi. Eles se casaram porém o casamento não vingou, e sua mãe retornou ao Brasil. Sua mãe, enfermeira formada na Alemanha por conta da demanda da guerra, foi ser enfermeira de bebês e dormia no emprego. Como não tinham casa, Traudi foi morar com a avó que a criou. Só que a avó também não tinha casa. Então, faziam rodízio na casa dos outros filhos e iam se mudando quando achavam que já havia cansado os anfitriões.
Aos 6 anos, Traudi muda-se para Suzano onde a avó constrói uma edícula. E nesse momento sua mãe, que falava alemão fluentemente, foi ser secretária de um empresário alemão. Traudi mal via a mãe que saia cedo e voltava tarde do trabalho. Ela era a razão de viver da avó que começou a morar com ela quando já tinha 80 anos. Apesar da dificuldades, Traudi foi muito feliz na infância por conta do amor de sua avó e da luta da mãe por sua sobrevivência.
Aos 12 anos, Traudi é mandada para uma escola interna alemã em Rio Claro. Ela passou lá um ano e sentia muita saudade da avó. Muito extrovertida, Traudi era muito convidada para ir à casa das amigas, mas nunca convidava ninguém porque morava num quarto de pensão.
Finalmente, a mãe consegue alugar um apartamento no centro de São Paulo e Traudi veio a morar com a mãe. Foi onde teve a felicidade de conhecer a estilista Glória Coelho que também morava lá. As duas ficaram muito amigas e começaram a se interessar pelo mundo da moda.
Ainda da época da pensão, que ficava nos jardins, a mãe de Traudi, depois do jantar ia bater perna na Rua Augusta e assim, Traudi começou a se encantar pelo glamour das lojas e roupas. Era um mundo de luxo. Não havia shopping center no Brasil. Traudi dizia que preferia ter só um sapato, contanto que fosse “o” sapato.
A avó ajudava com um dinheirinho para ela comprar tecido nas lojas Pernambucanas e pedia a uma costureira da periferia, bem mais em conta, os modelos iguais aos que tinha visto na casa das amigas com melhor condição financeira.
Um dia foi parada na rua. Era muito ruiva. Uma moça carioca falou que ela tinha uma figura muito interessante e se vestia muito bem e convidou-a a vender roupas em estabelecimento na rua Lorena. Nessa época Traudi cursava direito com o namorado, que veio a falecer.
Traudi Guida amou a loja de origem carioca, que tinha bossa e começou a entender da coisa. O dono da loja percebeu que ela tinha jeito e deixava ela montar as vitrines. Dali em diante, ela se tornou gerente da loja e foi para o Rio de Janeiro entender como funcionava o negócio.
Uma cliente, que se tornou uma grande amiga, propôs uma sociedade. Traudi topou, mas disse que não tinha o dinheiro necesário para montar o negócio. Sua mãe, vendo a paixão de Traudi por moda e varejo, deu o dinheiro do seu fundo de garantia. Assim, Traudi Guida abriu a loja Snoopy na Rua Tabapuã e ficou “com a barriga no balcão” por 14 anos.
“Para quem vai empreender é necessário prestar atenção ao comportamento, no que está acontecendo no seu país, sua cidade e no mundo. Hoje é bem mais fácil por causa da internet” afirma Traudi Guida.
Mais tarde, junto a outra sócia abriu a Loja Estoque e juntas, fundaram a Le Lis Blanc. Elas compravam o tecido, fabricavam a roupa e vendiam. A loja ganhou vários prêmios, entre eles a loja que mais vendia por metro quadrado.
Numa viagem à Nova York, Traudi percebeu que a nova tendência era oferecer conforto para os clientes em lojas grandes, para que não ficassem se esbarrando num local pequeno. Assim, asa sócias rumaram para um negócio que trazia serviço e ampliaram a loja de 46 m2 para uma de 300 m2. A Les Lis Blanc cresceu, porém, a sócia de 25 anos ficou doente e veio falecer.
Assim, abalada com o falecimento da amiga, que também era peça chave no negócio, Traudi resolveu vender a empresas e tirar um ano sabático. Nessa época, seu filho Bento Guida lhe propôs um novo negócio: a SouQ. A proposta do negócio, uma rede de lojas inspirados nos mercados árabes, encheu os olhos da empresária que topou o desafio e foi empeender novamente. Desta vez, na companhia do filho.
Traudi Guida é um exemplo para as mulheres maduras: aos 74 anos continuou sonhando e colocando novos projetos novos em prática. Ela acredita que sua figura serve de inspiração para pessoas mais velhas. Para ela, a vida continua. É sempre possível se realizar.
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