Cristina Castro, CEO do Instituto Glória, promove o fim da violência de gênero contra as mulheres e meninas a partir da igualdade de gênero. Afinal, como a robô Glória atua no combate à esta realidade?
Cristina Castro é a “mãe” da robô Glória, “plataforma de transformação social que atua de maneira colaborativa, entre empreendedoras e lideranças, para juntas resgatarem mulheres da vulnerabilidade social”.
Vamos lá! É importante salientar que 75% da predição de consumo no mundo hoje é feito por mulheres. 75% da vontade de compra é pensada e balizada pelo gênero feminino, seja a compra final feita por homens ou mulheres. Para que possamos falar sobre desenvolvimento sustentável no mundo é necessário ouvir as mulheres e entender o gênero feminino. Mas um segundo ponto fez Cristina criar a robô Glória: dados alarmantes sobre violência contra a mulher.
“A cada 2 segundos, uma mulher sobre algum tipo de violência no Brasil. A cada 2 minutos, a lei Maria da Penha é acionada. A cada 9 minutos, uma menina é estuprada no Brasil e, a cada 2 horas, uma mulher é morta. E esses números são subnotificados porque nem todos os casos vão parar na delegacia ou num hospital” completa Cristina Castro.
Quando se compreende isso, faz-se necessário pensar em uma mudança mundial de contextos buscando como estratégias de negócios os objetivos de desenvolvimento sustentável. Para justificar a importância da agenda global sabe-se que, quando mulheres recebem auxílio do governo, em contraposição ao homem, a criança aumenta em um ano 3,5 vezes do peso.
Não é um juízo de valor. Quem está certo ou errado. São padrões culturais existentes. E, é fundamental entendermos a cultura para mudarmos o contexto. Cristina Castro, com inúmeros títulos e cargos diz que se define como ativista da causa feminina. “Entendo ser impossível pensar em um mundo sustentável, de maneira contínua de crescimento, sem a igualdade de gênero”.
E para ela “ter poder é ter propósito. E o meu é acabar com a violência contra mulheres e meninas. Já fui taxada como doida por isso, mas acredito em sonhos ambiciosos. Dá o mesmo trabalho sonhar alto ou sonhar baixo. Escolhi ir além” confessa Cristina Castro.
Ela acredita que pode mudar o mundo. Acredita num mundo onde toda a mulher possa ser livre, possa e deva ser protagonista da sua história. Assim, idealizou a Glória, uma inteligência artificial que é a soma de todas as mulheres. Não é a melhor amiga, não é uma delegada, não é uma psicóloga. Essa inteligência artificial é a soma de todas as mulheres que de alguma forma já sofreram, ou podem vir a sofrer violência.
No Brasil sabe-se que há cada três mulheres, duas já sofreram violência. Cristina arrisca dizer que a cada três todas já tenham sofrido algum tipo de violência. O mundo ainda não é inclusivo.
Pensar na questão da inclusão social dessas mulheres é um direito. Um direito de igualdade e não equidade. Todas as pessoas tem o mesmo direito à saúde, à educação e à segurança. E pensando nisso Cristina Castro desenvolveu a Inteligência Artificial Glória, uma robô negra, de olhos puxados, que traz a força de mulheres faraônicas, na qual a história da arte mundial mostra que são as únicas que não figuravam condições de subserviência.
O Instituto Glória, uma ONG, nasceu em 2019 para tangibilizar a causa: a de violência de gênero. É uma plataforma de transformação social, ou seja, “ não é apenas um chatbot, um jogo, ou um projeto”. Atua com beneficiários primários as mulheres e meninas no mundo e, de maneira secundária, ensina os homens a importância da causa. “É necessário formá-los para que consigamos que essas mulheres tenham segurança para voltar para casa.”completa Cristina Castro.
O projeto impactou, apenas em 2020, 30 mil mulheres de maneira direta. E, 100 mil, de maneira indireta. Hoje o Instituto Gloria conta 389 voluntários trabalhando, constantemente, nos 22 projetos que traçamos como fundamental para a causa. Para tal, o Instituto Glória utiliza-se de três tipos de tecnologias:
– Inteligência Artificial: a robô conversa e interage com mulheres e meninas para que elas possam ensinar sobre suas narrativas, de maneira completa e, assim, entendermos os verdadeiros problemas da violência.
– People analytics: o grande coração da Glória, mineração em tempo real de dados para gerar relatórios sobre o fenômeno violência de gênero. E,
– Blockchain:os dados são nossa maior riqueza. Para tal, a segurança das informações coletadas são primordiais.
Os projetos do Instituto Glória se estabelecem através de cinco dimensões: empreendedorismo, que visa inserir mais mulheres/meninas no mercado de trabalho. Uma das nossas apostas é a rede de embaixadoras da Glória (de mulheres empresárias das Américas e Caribe e, também, as jovens embaixadoras que são alunas de escolas públicas de 2ª Grau. Ambas atuam disseminando a cultura de combate a violência de gênero).
A segunda dimensão é a educação, focada em formar formadoras. Contam com mais de 250 voluntários. O Instituto Glória criou um comitê de diversidade e inclusão para mulheres negras, com deficiência, trans, entre outras. A educação permite a continuidade de inserção a longo prazo.
“Um dos belos projetos que criamos em parceria com a Embaixada dos EUA no Brasil é o STEAM Power for Girls, ou seja, em 10 meses formamos meninas cientistas que pensarão o futuro da ciência em nosso país” salienta Cristina Castro.
A 3 dimensão é o acesso à justiça. Foi criado para identificar e discutir leis. Além de existirem poucas leis direcionadas para a causa feminina, pouco se sabe sobre elas. Busca-se entender quem é a liderança comunitária de cada local e, a partir disso, formar estas mulheres para que apoiem a mudança dos contextos em que estão inseridas.
“A quarta dimensão é a segurança. Criamos um mapa de violência contra a mulher onde é possível, através do depoimento de cada mulher/menina localizar dados sobre a violência, em tempo real. Esses dados visam apoiar políticas públicas assertivas” explica Cristina Castro.
E, por fim, a 5 dimensão: saúde. Uma plataforma de teleatendimento para pessoas em condição de vulnerabilidade e abrigadas (casas abrigo, penitenciárias, casas de passagem, entre outros). Hoje conta com mais de 300 profissionais de saúde, entre eles psicólogos, médicos e fisioterapeutas atendendo de maneira voluntária pessoas em condição de abrigamento. Mais de 700 atendimentos contínuos foram feitos nesses últimos 6 meses.
“Somos também signatários do Pacto Mundial da ONU e desta forma pensamos estratégias de desenvolvimento sustentável de maneira contínua em todos os nossos projetos” completa Cristina Castro.
E como será o Instituto Glória no futuro? Pensando nas necessidades de cada mulher ou menina no mundo, entendendo a globalização e a escala como a única forma de impactar uma agenda global. Ambicioso, talvez, mas o propósito de mudar o mundo fala mais alto para Cristina Castro.
“É necessário pensar as gerações futuras, as meninas que hoje têm 13, 14 anos que ainda não entendem que estão inseridas em relações abusivas, ainda não acreditam que podem ser o que quiserem, e é com elas que acreditamos ter um mundo melhor” alerta Cristina Castro.
O Instituto Gloria visa impactar 20 milhões de pessoas no Brasil em dois anos e, mapear padrões de comportamento no mundo em 5 anos. Porém, sem jamais esquecer os ensinamentos de Jung que ressaltava que “devemos saber todas as teorias, dominar todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, ser apenas outra alma humana.”
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