Condessa Mary von Faber-Castell foi uma das palestrantes do FBFE Mulher 2021. Mary nasceu nos Estados Unidos, formou-se Bacharel em Artes em 1974 e logo depois fez Mestrado em Business. Em Nova York, começou sua vida profissional como compradora de cosméticos para a Macy’s. Em seguida, trabalhou na área de marketing, focada também em cosméticos, para as marcas Avon, L’Oreal e finalmente Chanel.
Condessa Mary von Faber-Castell compartilhou um pouco de sua trajetória pessoal e profissional no FBFE Mulher 2021, com Nelson Cury Filho, fundador do Fórum Brasileiro da Família Empreendedora. Enquanto trabalhava para a Chanel em Nova York, Mary conheceu o Conde Alemão Anton-Wolfgang von Faber-Castell, CEO da oitava geração e acionista da empresa Faber-Castell. Nesse ponto, seus planos como executiva da indústria de cosméticos mudaram radicalmente.
A jornada profissional da Condessa Mary von Faber-Castell começou em um programa de treinamento executivo, onde após seis meses, ela recebeu a responsabilidade da gestão financeira de seu próprio departamento de cosméticos. Esperava-se que ela tivesse lucro e não havia desculpas: ou funcionava ou ela estava fora.
“Um ponto relevante da minha vida profissional foi a minha formação. Eu me formei em 1974, época em que havia uma ´ação de valorização das mulheres´, criando muitas oportunidades. Quando me formei, no entanto, não me sentia preparada para dirigir uma empresa, então fiz um mestrado com foco em marketing. O percentual de mulheres nessa área era inferior a 5%. Embora tenha sido uma mudança difícil em meus estudos, ela me forneceu as ferramentas, de que mais tarde precisaria no mundo dos negócios.”
De lá, partiu para um segundo desafio: na Avon Cosméticos, também em Nova York, e logo foi chamada pela L’Oréal, onde também trabalhou com reestruturação e branding de uma categoria de produtos. Depois disso, Mary foi promovida e passou a gerenciar a linha de cuidados com a pele da Lâncome e, em seguida, teve o desafio de lançar a linha de maquiagens L’oreal.
“Esse foi definitivamente um ótimo trabalho, mas então o melhor aconteceu: o desafio de supervisionar o departamento de marketing de maquiagem da Chanel. Finalmente, estava no auge da minha vida profissional. Eu tinha o departamento perfeito, um chefe e proprietário maravilhoso. Eu tinha o emprego dos meus sonhos! Mas logo deixaria tudo isso para trás” – disse a Condessa Mary von Faber-Castell.
Com o casamento em 1987 e a mudança para a Alemanha, envolveu-se com a divisão de cosméticos do grupo Faber-Castell, inicialmente como consultora. A divisão de cosméticos havia sido iniciada por seu marido, o Conde Faber-Castell em 1978, como uma empresa “private label”, que fabricava produtos para outras marcas.
Havia poucas fábricas habilitadas a produzir esse tipo de produto e a Faber-Castell era uma delas. Havia apenas duas empresas que forneciam para todo o mercado mundial de delineador e lápis labial na época. E assim, a Faber-Castell passou a fabricar esses produtos no Brasil, na Alemanha e há dois anos nos Estados Unidos.
“Dizem que a maioria das empresas familiares não ultrapassa ou tem dificuldade em passar da terceira geração. Os desafios são enormes. Se eu imaginar o pai de meu marido, e até mesmo seu avô, os dois dirigiam os negócios da família, em tempos de guerra. Guerras mundiais, períodos em que as coisas eram expropriadas, tiradas. Lembro-me de uma vez quando perguntaram ao meu marido, qual era o segredo da empresa estar na oitava geração. Ele respondeu: mantenha a humildade, evite dívidas e case com a mulher certa”, riu a Condessa Mary von Faber-Castell.
Para ela, esse não é um ponto de vista romântico, mas sim pontos que merecem atenção pelos reais desafios de como as próximas gerações serão preparadas, como serão educadas, treinadas e desenvolvidas para fazer seu trabalho. “Meu desafio nos últimos 5 anos, após a morte do meu marido, foi realmente trabalhar para a transição da empresa para a 9ª. geração, a próxima geração da Faber-Castell”.
“2021 tem sido um ano difícil para todos, talvez a experiência mais desafiadora”. Mas para ela, sempre que há um desafio, é preciso encontrar uma oportunidade. “Se você tem empresa, deixar tudo, não é uma opção”, acrescenta.
Confira a entrevista:
NELSON CURY FILHO: Qual foi o seu maior desafio quando começou a trabalhar na Faber-Castell, sendo casada com o proprietário?
Condessa Mary von Faber-Castell: Acho que trabalhar com homens que nunca trabalharam com mulheres em cargos importantes. Ajudou muito, minhas experiências anteriores, em empresas francesas e com executivos franceses. Mas isso era uma dificuldade, pois naquela época, havia poucas mulheres em cargos de liderança. Percebi que era muito desafiador para esses homens, trabalhar com mulheres como gerentes. Foram necessários alguns ajustes para descobrir como ir em frente e ser levada a sério.
NACF - Vimos que a família Faber-Castell está na nona geração. Como você está lidando com isso?
Condessa Mary von Faber-Castell: Chamamos de G9! Estamos trabalhando na questão da governança corporativa. Meu objetivo é me envolver menos com o dia a dia da empresa, com a operação. E acredito que tem sido uma boa decisão. Com a morte de meu marido, ninguém estava realmente preparado e interessado em assumir o cargo de CEO. E agora, temos um CEO externo, não um membro da família, que está fazendo um ótimo trabalho durante a pandemia. A família e os acionistas têm quatro áreas de interface com ele. A chave é que a família está participando dos conselhos. Eu, por exemplo, atuo como presidente do Conselho Consultivo da empresa no Brasil. Assim, ainda temos a oportunidade de influenciar a tomada de decisões e estar em contato com o mercado e com nossos executivos.
NACF - Para finalizar, qual é o legado que a Faber-Castell quer deixar para o mundo?
Condessa Mary von Faber-Castell: Acredito que o legado é ser uma empresa socialmente responsável, e que se mantenha fiel aos seus valores, como proteger o meio ambiente, tratar as pessoas de forma justa e igualitária. E claro, continuar sendo um dos primeiros objetos com os quais as crianças têm contato. Objetos estes, usados no início da aprendizagem, no desenvolvimento da criatividade. Porque a criatividade está se tornando uma habilidade cada vez mais importante. Ser dependente de um tablet é muito perigoso. Esse é o legado que eu gostaria de ver. E o crescimento do número de pessoas que estão voltando a desenhar e pintar durante o período pandêmico, mostra que elas precisam cada vez mais deste tempo, sem telas. Outro legado importante é também ser uma empresa em que as pessoas confiem no seu futuro. Isso me deixa muito feliz e me dá a certeza de que estamos no caminho certo.
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