Daniela Lupo trouxe a história centenária da Lupo, empresa que há mais de 104 anos veste o corpo e os pés dos brasileiros, para refletir sobre o papel das mulheres na construção de negócios e no fortalecimento de valores que atravessam gerações. Para ela, mais do que dirigir uma companhia, é preciso tecer, todos os dias, o fio do tempo que conecta passado, presente e futuro.
Sua fala lembrando a trajetória de seu bisavô, Henrique Lupo, que chegou ao Brasil em 1888, com apenas 12 anos, em um dia histórico: o da assinatura da Lei Áurea. Vindo de uma família de relojoeiros, ele trouxe consigo a disciplina do ofício e a capacidade de reinvenção. Ao contar episódios de coragem, como o período em que, ainda jovem, saía de bicicleta à noite para consertar relógios e sustentar os irmãos.
Ela ressaltou como esse espírito de perseverança ajudou a fundar os alicerces de uma marca que atravessou crises, pandemias e transformações profundas no mercado
Um dos pontos altos da palestra foi a reflexão sobre o nascimento da Lupo como indústria têxtil. Daniela destacou que tudo começou na sala de jantar da família, onde foi instalada a primeira máquina de fazer meias, sob a liderança feminina de sua bisavó Judite. As primeiras produções foram tingidas na banheira de casa, um símbolo poderoso de empreendedorismo familiar. Ela enfatizou que, desde o início, a presença feminina foi fundamental na empresa, algo que se reflete até hoje, com 85% do quadro de colaboradores formado por mulheres.
Daniela Lupo também falou no FBFE Mulher 2025 sobre o período desafiador entre 1985 e 1990, quando a empresa quase foi vendida. Nesse momento crítico, Liliana Alfiero, neta do fundador, assumiu a liderança e promoveu a profissionalização da gestão, garantindo a sobrevivência e o crescimento da companhia. Para Daniela, esse é um exemplo de como as mulheres, mesmo em contextos familiares tradicionalmente machistas, podem assumir protagonismo e transformar destinos empresariais.
Outro tema central foi a importância da cultura e do pertencimento. A palestrante contou sobre iniciativas históricas da Lupo, como o Clube Meluza, criado para os colaboradores, e ressaltou que estar próximo das pessoas é parte da identidade da marca. Ela mencionou que a empresa mantém colaboradores com 30, 40 e até 50 anos de casa, o que para ela é um reflexo da força do legado e do cuidado com o capital humano.
Por fim, Daniela Lupo reforçou que a perpetuação de um negócio exige ler o “espírito do tempo”, que significa captar os sinais das mudanças sociais e tecnológicas e adaptá-los à cultura da empresa. Para ela, a liderança do futuro precisa ser regenerativa, capaz de mexer na “terra” para que algo novo possa nascer. Em um mundo em transição, o papel das mulheres é dar nome ao seu protagonismo e reconhecer sua contribuição diária na construção do legado.
A palestra foi encerrada com uma pergunta provocadora ao público: “O que você está tecendo com o fio do tempo?”
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