Jason Di Piazza, sócio da Blockchain Capital, uma das mais tradicionais gestoras de venture capital focadas em blockchain no mundo, palestrou no Family Office Summit Brazil 2025.Com mais de 10 anos de atuação e cerca de US$ 2,5 bilhões sob gestão, a empresa foi a primeira a investir exclusivamente em empreendedores que constroem soluções baseadas em blockchain.
Di Piazza trouxe uma visão realista e empolgante sobre o presente e o futuro da tecnologia, contextualizando a evolução do ecossistema cripto e sua convergência com inteligência artificial, finanças descentralizadas e novas formas de propriedade digital.
Jason Di Piazza provocou a plateia ao perguntar quem ali possuía criptomoedas. A resposta, tímida, refletiu o desafio cultural que ainda cerca o tema e deu o tom da conversa. “Se a internet tornou a informação global e barata, as blockchains fazem o mesmo com o valor”, explicou. Ele destacou que a infraestrutura financeira mundial ainda opera de forma fragmentada e ineficiente: “Hoje o sistema financeiro global gasta bilhões por ano tentando responder a uma pergunta simples, quem possui o quê?”.
Para o executivo, as blockchains surgem justamente para resolver essa lacuna, criando uma camada neutra, segura e global de registro de propriedade e transferência de valor. “Elas permitem transações sem intermediários, com execução direta e previsível. São como uma nuvem financeira e, para funcionar, precisam ser neutras, sem dono. Não podem pertencer ao JP Morgan, à Amazon ou a qualquer governo.”
Um dos pontos altos da palestra foi a explicação de Di Piazza sobre como os assets digitais estão se tornando “autônomos”, ou seja, com lógica embutida. “Finanças são apenas lógica”, resumiu. “Um pagamento é um código dizendo ‘enviar X para Y”. Um contrato de empréstimo é um código dizendo ‘se o colateral cair abaixo de Z, liquide’. O que a blockchain faz é permitir que essa lógica seja executada diretamente no ativo, sem necessidade de um intermediário.”
Ele também destacou o avanço da tokenização, área em que a Blockchain Capital liderou investimentos em empresas como Securitize, que recentemente anunciou seu IPO avaliado em US$ 1,2 bilhão. Outro tema central da fala foi o avanço dos stablecoins, moedas digitais pareadas ao dólar como vetor de adoção global. “Hoje, o total de stablecoins em circulação chega a US$ 310 bilhões, processando US$ 1,4 trilhão em transações por mês”, revelou.
Segundo Di Piazza, a América Latina tem se tornado um terreno fértil para o uso desses ativos como ferramenta de proteção contra a inflação e meio de pagamento transfronteiriço. “No Brasil e em outros mercados emergentes, os stablecoinsestão se comportando como trilhos financeiros. São usados em pagamentos P2P, remessas e neobanks voltados à nova geração digital”, explicou.
Ele mencionou que a Blockchain Capital tem acompanhado de perto o ecossistema brasileiro: “Passamos os últimos seis meses em São Paulo avaliando fundadores e projetos. Estamos impressionados com o que vimos. Ainda é cedo, mas o potencial aqui é enorme.”
Di Piazza também falou sobre a filosofia de investimento da Blockchain Capital. “Operamos com alta convicção e preferimos ser contrários. Quando o mercado está em pânico, nós investimos; quando está eufórico, nós esperamos”, afirmou, exibindo um gráfico que mostrava os aportes da firma aumentando nos momentos de baixa.
Para ele, o segredo é entender que a inovação é secular, mas os mercados são cíclicos. “Enquanto muitos reagem aos ciclos de preços, nós focamos no avanço tecnológico. É isso que sustenta o crescimento de longo prazo.” Jason também traçou paralelos entre blockchain e inteligência artificial. “Hoje o Total Addressable Market das criptomoedas é de 8 bilhões de humanos. Mas o que acontece quando houver 800 bilhões de agentes de IA?”
Segundo ele, a IA não usará cartões de crédito e usará código. “Pagamentos entre máquinas exigem infraestrutura programável, e é aí que blockchain e IA convergem.”
Essa interseção, disse, traz desafios de identidade digital (“como provar que você é humano online?”) e compliance programável, onde as regras estão embutidas diretamente nos ativos. “Você poderá programar uma stablecoin para pagar apenas determinadas contas, com total segurança. Esse é o futuro das finanças automatizadas.”
Encerrando a palestra, Jason Di Piazza resumiu três razões que tornam este o momento ideal para considerar investimentos no setor:
Maturidade tecnológica, as blockchains já estão prontas para operar em escala.
Abertura regulatória nos EUA, com políticas mais claras e equilibradas.
Engajamento institucional crescente, com empresas como BlackRock, Visa, PayPal, Sony, Reddit e Hamilton Lane entrando no espaço.
Além disso, ele destacou a mudança geracional: “A maior transferência de riqueza da história, entre US$ 70 e 120 trilhões está em curso nos Estados Unidos. E essa nova geração é digital por natureza. Eles não querem uma conta no JP Morgan; querem uma wallet no celular.”
A palestra de Jason Di Piazza encerrou-se com uma visão inspiradora: o futuro das finanças será global, programável e invisível. “O sucesso da blockchain virá quando as pessoas usarem aplicações baseadas nela sem nem perceber, como o Polymarket, um mercado de previsões construído sobre blockchain que já vale mais de US$ 15 bilhões.”
Para ele, essa transição já começou e o Brasil tem um papel importante nesse novo paradigma.
“O que estamos vendo aqui é o início de uma revolução silenciosa. A blockchain está se tornando a nova infraestrutura financeira do mundo.”
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